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    Winter, o Golfinho 2
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Winter, o Golfinho 2

    Isto é uma lição, não é?

    por Bruno Carmelo

    Desde o início, o aspecto que chama a atenção em Winter, o Golfinho 2 é o seu didatismo. Geralmente, este é um fator negativo, mas seria impertinente criticar a pedagogia em um filme que pretende ser, de modo assumido, uma lição de vida aos pequenos. Esta história deve cativar especialmente aqueles pais defensores da função moral do cinema, acreditando que o mais importante em um filme é ensinar às crianças o que elas devem amar, aprovar, e como pensar.

    A primeira mensagem do filme, e mais óbvia, é de cunho ecológico. Nesta história, adultos e crianças se dedicam com fervor à proteção de golfinhos, tartarugas e aves, e mesmo no caso de uma transferência de animais entre instituições, a cidade inteira se volta para esta notícia, apresentada em todos os telejornais, com centenas de pessoas presentes, vestindo camisetas confeccionadas com temas de golfinhos e segurando placas sobre o assunto. A representação é exagerada, claro, mas este é um dos principais fatores da didática: o uso de exemplos bem claros (até mesmo caricatos) para que a lógica seja compreendida pelos espectadores novatos.

    A segunda mensagem, mais inesperada, diz respeito ao amadurecimento. Não se esperava que Winter, o Golfinho 2 fosse uma produção moralmente ambiciosa, mas o roteiro consegue incluir, de maneira fluida, o dilema do primeiro amor entre Hazel Haskett (Cozi Zuehlsdorff) e Sawyer Nelson (Nathan Gamble), a decisão de se afastar da família para embarcar numa viagem e o dilema de Dr. Clay (Harry Connick Jr) de ceder às expectativas financeiras dos acionários do parque aquático. Neste sentido, este é um filme familiar amplo, funcionando como um grande tratado de direitos, deveres e virtudes, escondidos por trás da simples história dos golfinhos.

    Mas além destas mensagens, talvez o maior aprendizado diga respeito à linguagem cinematográfica. Winter, o Golfinho 2 pretende ensinar às crianças o bê-a-bá do cinema, sublinhando cada passagem: em momentos de suspense (será que os novos golfinhos vão se dar bem um com o outro?), os violinos tocam incessantemente, as atuações acentuam as caretas, os enquadramentos antecipam cada movimento. Na comédia (Winter se divertindo com os brinquedos), é uma fanfarra que toca, com planos abertos da multidão sorridente. No romance entre Hazel e Sawyer, cada olhar trocado entre os jovens apaixonados é reforçado pelo insistente jogo de plano e contra-plano.

    Assim, as crianças aprendem através destes clichês assumidos a base de cada gênero, a representação imagética de cada emoção. Mesmo no ápice de uma mensagem sobre aceitar as oportunidades da vida, Sawyer se vira para o interlocutor e pergunta: “Isto é uma lição, não é?”, para que realmente não reste nenhuma dúvida, nenhum sentido escondido. Esta pode ser uma obra superficial, mas ao mesmo tempo muito transparente: todo o seu significado está oferecido em uma bandeja e com um sorriso nos lábios pelo diretor Charles Martin Smith e pelo elenco de jovens belos, sorridentes, íntegros e simpáticos.

    Em um projeto destes, é pertinente avaliar o elenco de acordo com a ideologia eco-virtuosa do roteiro. Ashley Judd está exageradamente sorridente, Nathan Gamble está heroicamente obstinado, Harry Connick Jr. está sisudo até demais. Mas os atores foram provavelmente induzidos a calibrar suas atuações um grau acima do realismo, tendendo à idealização. Nestes parâmetros, eles cumprem bem os seus papéis. É triste, no entanto, ver alguém do talento de Morgan Freeman limitado ao triste papel de um pseudo-especialista em mecânica, que aparece durante menos de dez minutos para proferir três ou quatro piadas tolas.

    Pelo menos, é louvável que não exista um vilão tradicional nesta história. Os problemas enfrentados pelo parque são de ordem legal (não é permitido por lei manter um golfinho sozinho, por exemplo) e econômica (se fecharem o parque por um momento, a empresa corre riscos financeiros), mas ninguém fornece um contraponto direto ao discurso ecológico. A conclusão abusa do sentimentalismo, as imagens são brilhosas e saturadas como um comercial de margarina, mas Winter, o Golfinho 2 constitui uma obra abrangente, agradável e ágil, adequada ao objetivo a que se propõe.

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