Existe uma expressão em inglês que é muito usada para descrever pessoas ou situações fora do comum: “it’s a real gem”. É exatamente assim que podemos classificar o filme Coherence (no original, ainda sem título em português): “é uma verdadeira joia”. Não por ter um orçamento milionário, muito pelo contrário, com um orçamento limitadíssimo desenvolve uma narrativa complexa e desafiante que consegue ofuscar várias superproduções. Ficção científica do diretor James Ward Byrkit, com pitadas de suspense e terror, o longa apresenta quatro casais, Emily e Kevin (Emily Baldoni e Maury Sterling), Beth e Hugh (Elizabeth Gracen e Hugo Armstrong), Lee e Mike (Lorena Scafaria e Nicholas Brendon) e Laurie e Amir (Lauren Maher e o Alex Manugian), que se reúnem para fazer um jantar na casa de um deles. Na mesma noite, um cometa chamado Miller passará bem perto da Terra. Acontecimentos estranhos são desencadeados, como celulares quebrando, luz acabando e pessoas tendo atitudes diferentes das suas habituais, transformando o pacato jantar em uma agitada noite de curiosos eventos.
O diretor (Byrkit) realizou um trabalho soberbo, visto que o filme foi gravado em apenas cinco noites, praticamente em um único cenário (uma casa). Os atores não sabiam o que ia ser feito, o que contribuiu bastante para o suspense do filme. Foram-lhes dados os personagens e relatados alguns traços da personalidade e estado de espírito para o dia de gravação, posteriormente colocando os gatilhos para o que iria se passar e filmando o que resultava. Aqui temos que ressaltar também o elenco, que apesar de não contar com nenhum nome conhecido, não decepciona e entrega atuações excelentes. Os 8 personagens têm suas importâncias bem divididas, com a Emily (Emily Baldoni) sendo a protagonista.
O roteiro, também escrito por Byrkit, é brilhante e complexo, explorando ao máximo todas as suas nuances. Desenvolvido com inteligência, tudo o que aparece ao longo do filme não é por acaso: falas, contextualizações e objetos. O menor dos detalhes fornece informações que mudam o entendimento do longa. Assim, os personagens fazem parte de um quebra-cabeça, nos fazendo pensar constantemente em como cada uma de suas peças se encaixa no contexto geral do filme. Até mesmo a teoria do Gato de Schrödinger (um paradoxo da física quântica) foi utilizada para tornar o filme ainda mais instigante. Para que tudo fique evidenciado para o espectador, os próprios personagens fazem marcações para estabelecer algumas coisas, sendo a protagonista uma peça-chave no acompanhamento e entendimento dos fatos.
A fotografia do filme, apesar de simples, é tão eficaz que o torna mais sombrio e intimista. Filmado inteiramente com a câmera na mão e com alguns cenários escuros, pouco se consegue enxergar em algumas cenas. Esses momentos de pura escuridão não interferem em nada no entendimento do filme, mas proporcionam ao público tensão e suspense na medida certa. A trilha sonora complementa a ambientação sombria e de suspense que foi desejada pelo diretor. Alternando entre momentos mais calmos, com um ritmo mais discreto, e outros mais agitados, transmitindo um compasso mais frenético ou tenebroso.
Coherence é um filme repleto de reviravoltas, que o deixará pensando sobre as suas diversas possibilidades. Algumas pessoas poderão desejar assisti-lo novamente, não só para entendê-lo melhor, mas principalmente para captar os diversos detalhes que passaram despercebidos.