O olhar dos outros
por Lucas SalgadoIngmar Bergman é uma das figuras mais icônicas do cinema. Responsável por clássicos como O Sétimo Selo, Morangos Silvestres e Quando Duas Mulheres Pecam, influenciou grandes diretores e está na lista de muitos como um dos maiores cineastas da história da sétima arte. Invadindo Bergman tem como principal mérito o fato de não querer contar toda a vida do diretor. Aborda vários momentos importantes de sua vida, mas foca sua atenção na visão de atores e diretores sobre o sueco.
O longa começa chegando à ilha de Farö, onde Bergman se refugiou na Suécia e onde realizou vários de seus filmes. A existência de uma casa escondida no meio de uma ilha isolada mostra um pouco da personalidade do cineasta e é bem curioso descobrir que pessoas visitavam o local e procuravam pela casa dele. Uma dessas pessoas foi o diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, que se revela um grande fã de Bergman, chegando a comparar sua visita à uma ida à meca ou ao Vaticano.
Inicialmente, o filme foca sua atenção na visita de alguns diretores à casa de Bergman. John Landis, Tomas Alfredson, Claire Denis, Michael Haneke, Daniel Espinosa e Iñárritu foram os escolhidos para esta visita especial. É bem curioso ver a reação de cada um diante do local. Denis, por exemplo, fica extremamente nervosa e tem quase uma crise de pânico ao entrar em um lugar tão íntimo.
Haneke foca sua atenção na biblioteca do diretor, enquanto que Landis e Espinosa ficam impressionados com sua videoteca e pela inusitada presença de obras como Emmanuelle e Duro de Matar dentre os filmes que ele assistia.
A partir daí, Invadindo Bergman foca em entrevistas de vários cineastas ao redor do mundo, como Ang Lee, Martin Scorsese, Woody Allen, Francis Ford Coppola, Zhang Yimou, Wes Anderson, Takeshi Kitano e Lars von Trier. É impressionante notar como vários deles, em especial Scorsese, ficam nervosos ao falar de Bergman. Atrizes que trabalharam com o cineasta, como Harriet Andersson, Pernilla August e Lena Olin, também são ouvidas.
As entrevistas são elementos importantíssimos na história, mas também são um problema para o longa, que parece querer ouvir todo mundo. Ouvir Isabella Rossellini, cuja mãe trabalhou com Bergman, faz sentido, mas os depoimentos de Robert De Niro, Holly Hunter, Laura Dern, Ridley Scott e Wes Craven são pouco interessantes.
Dentre os entrevistados, Lars von Trier é um capítulo a parte. No início parece apenas querer causar mais uma polêmica boba, mas ao longo dos depoimentos vai se revelando um grande fã de Bergman, ao ponto de fazer uma declaração de amor e ter uma crise de ciúmes com o fato do cultuado diretor nunca ter respondido suas cartas e por ter ficado amigo de Thomas Vinterberg no final da vida.
Outra falha da produção é tentar interpretar motivações e até mesmo trechos de obras de Bergman, mas ainda assim o documentário é uma ótima pedida para cinéfilos e fãs do cineasta. É curioso descobrir, por exemplo, que a taxa de divórcios cresceu na Suécia após o lançamento de Cenas de um Casamento. Aborda ainda as dificuldades no início da carreira, o pouco interesse no sucesso financeiro e seu trabalho com os atores.