Dinheiro ou amigos
por Francisco RussoFilmes de assaltos (e suas variantes) costumam ter duas saídas inevitáveis: ou dão certo e ressaltam a inteligência e presteza dos bandidos, vide a trilogia Onze Homens e um Segredo, ou fracassam e revelam os bastidores do porquê não deu certo. Independente da possibilidade, são filmes cuja atração maior muitas vezes não está no desfecho, mas em como se chega nele. É o que prometia acontecer em Jogada de Mestre, que acompanha a história real do sequestro do milionário Freddy Heineken, dono da famosa cervejaria de mesmo nome. É, você leu bem: prometia.
Dirigido por Daniel Alfredson, das decepcionantes sequências da trilogia sueca Millennium, Jogada de Mestre é acima de tudo um filme frouxo, já que a história de sustentação ao tal sequestro é mal amarrada. Tudo começa quando cinco amigos fracassam na tentativa de obter um empréstimo bancário, o que os leva ao planejamento do tal sequestro - não sem antes passar por um "brilhante" diálogo que defende o porquê de não tentar a óbvia opção dos empregos assalariados. O porquê da decisão pelo mundo do crime soa como capricho de um bando de crianças crescidas mimadas, que deseja ter uma vida fácil de forma rápida, sem se ater às possíveis consequências.
Ainda assim, eles conseguem se organizar de forma a, enfim, sequestrar Heineken. Celebridade local, cujo sumiço ganha as manchetes de toda a Holanda, pouco acostumada a crimes deste porte. O segundo momento em que o filme poderia funcionar é justamente no encarceramento da vítima, muito graças à escolha de Anthony Hopkins para interpretá-la. O esperado jogo mental entre capturado e captores até é insinuado, mas jamais aprofundado. Na maioria das cenas vemos um Hopkins apenas raivoso, um desperdício para um ator de seu porte.
O centro de tudo está mesmo nos cinco amigos que se tornam bandidos, capitaneados por Jim Sturgess e Sam Worthington, e o quanto o golpe afeta na amizade do quinteto. Eis outro grande problema do filme: por mais que Sturgess até seja carismático, ambos não conseguem sustentar a trama. Várias são as cenas em que soam perdidos, reflexo de seus personagens dentro do contexto mas também de suas próprias limitações como ator. Por outro lado, é até interessante a opção do roteiro em omitir, quase completamente, os passos da polícia na investigação do sequestro. Aumenta a pressão no grupo de amigos, que se vê, assim como o espectador, sem saber muito bem o que está acontecendo - o que não significa dizer que o filme ganhe em tensão, é bom ressaltar.
Diante de uma direção preguiçosa, que pouco aproveita os belos cenários da cidade de Amsterdã, Jogada de Mestre é um filme que jamais engrena de fato. Outro ponto negativo é a fotografia, lavada e sem brilho, o que pode também ser resultado da má projeção na sessão para a imprensa em que foi exibido.