Animais Fantásticos e Onde Habitam é a nona adaptação para o cinema da obra de J. K. Rowlings, se considerado que o último volume da série Harry Potter foi dividido em 2 filmes. Pela primeira vez, o roteiro ficou a cargo da própria autora, o que só pode ser explicado pelo fato que desta vez ela é também a produtora do filme, já que nunca foi tornado público que ela estivesse descontente com as adaptações anteriores feitas a partir de seus livros. O livro Animais Fantásticos... foi escrito posteriormente ao encerramento da série de 7 livros sobre o bruxinho Potter, e nesses livros ele era citado apenas como uma espécie de “Manual dos Bruxos”, não havendo nenhuma referência ao leitor que pudesse haver uma outra narrativa dentro do universo Potter, e ainda não revelada.
O filme, portanto, não é nem uma sequência nem uma “prequel” propriamente dita, mas possui os elementos mágicos do universo Harry Potter. Assim, somos apresentados a personagens totalmente novos, que inclusive vivem em outra época que a dos alunos de Hogwarts. A ação aqui se passa nos anos 30, em Nova York. Esta mudança de época e geografia também permitem que a autora introduza novos termos. Na América, os bruxos são “majs” e os “trouxas” são “não-majs”.
Não é muito segredo que Rowlings e os estúdios pretendem iniciar uma nova franquia. Fala-se em, 3 ou 5 filmes (!). Assim, o filme realmente tem a primeira intenção de apresentar um novo universo mágico, desvinculado dos livros de Harry Potter, mais do que contar uma história completa – tática tradicional a uma franquia que já nasce com esta intenção. Há um novo vilão, que substitui o hoje ícone pop Valdemort, e uma nova turma de bruxos e trouxas, mas todos adultos. Animais Fantásticos... parece querer manter cativo o público que conquistou com os livros de Harry Potter e que, obviamente, cresceram e amadureceram ao longo desses anos, assim como a própria trajetória dos livros e filmes, que começaram com um tom bastante infantil e foram evoluindo e tornando-se mais sombrios à medida que o público também ia ficando mais velho.
O maior teste que o filme irá travar será exatamente com o público que acompanhou toda a saga de Harry Potter. Animais Fantásticos... pode ser visto, compreendido e apreciado por quem nunca viu um único filme de Harry Potter (ou leu os livros), o que é uma qualidade, que afasta a crença que reboots ou spin-offs sejam sempre “mais do mesmo”. A questão reside no fato que haverá inevitavelmente comparações com os filmes da série. A franquia evoluiu bastante em sua qualidade como cinema, e nos brindou com seus melhores filmes, exatamente os 4 últimos, pelas mãos do mesmo diretor que assina este Animais Fantásticos..., David Yates. Mas não há material suficiente nem um background ainda formado para que Yates possa alçar voos mais altos como fez nos últimos episódios da franquia Potter. Ao menos este primeiro capítulo da franquia já começa num nível de qualidade geral bem acima do iniciante Pedra Filosofal.
Animais Fantásticos e Onde Habitam tem uma excelente qualidade de produção, o que garante uma eficiente reconstituição de época (do veterano Stuart Craig), efeitos visuais convincentes e sem exageros e uma bela fotografia (por conta do mestre Philippe Rousselot). Há atores consagrados (Eddie Redmayne, Colin Farrell, John Voight, Samantha Morton) e outros desconhecidos, colocados no mesmo plano. Mas são efetivamente esses “desconhecidos”, no entanto, que “roubam” a cena, principalmente os simpáticos Dan Fogler (como Jacob Kowalski) e Alison Sudol (como Queenie Goldstein). O destaque entre os “animais fantásticos” fica por conta de um Pelúcio, que rende boas cenas cômicas.
Animais Fantásticos e Onde Habitam é um filme leve e divertido, um autêntico filme-pipoca que, no entanto, não desrespeita a inteligência do espectador nem agride sua sensibilidade. Em nada pode ser comparado à densidade dramática e qualidade visual e cinemática dos últimos capítulos da franquia Harry Potter, mas não faz feio, e merece ser visto.