Fiona live action
por Renato HermsdorffSegundo longa-metragem da diretora mexicana Mariana Chenillo (Cinco Dias Sem Nora), este Paraíso é um fofo filme, focado na relação amorosa de um casal de gordinhos (gordos que despertam a empatia do público, daí o termo no diminutivo).
A dramédia, baseada em um conto da escritora Julieta Arévalo, narra a mudança de Carmen (a estreante Daniela Rincón) e Alfredo (Andrés Almeida), um casal de gorduchos felizes, do pacato subúrbio da Cidade do México para o mundo cão da capital. Ele trabalha em um banco e é transferido; ela o acompanha.
Neste primeiro momento, a diretora pesa a mão na construção dos personagens e na relação deles com o cenário. Eles, por exemplo, com frequência, aparecem comendo; enquanto a opressão da cidade grande é exageradamente marcada no incômodo com o barulho e na impessoalidade das relações. O conflito que se desenha, incialmente, caminha para uma reprodução de clichês.
À medida em que o filme avança, no entanto, Paraíso, com o perdão do trocadilho, ganha corpo.
Por iniciativa de Carmen, os dois entram em uma dieta. Um consegue; o outro, não. Mas é preciso emagrecer? É possível estar em paz com o corpo independente do que mostra a balança? E, uma vez de bem com seu próprio peso, como resistir à insegurança causada pelo julgamento alheio? São questionamentos interessantes que o filme propõe.
Embora o assunto seja sério, em nenhum momento, aqui, ele é tratado de maneira demagoga ou mesmo professoral. Com delicadeza e veracidade, a diretora conduz o destino e a relação dos personagens, apoiada, sobretudo, na figura de Carmen, uma espécie de Fiona (Shrek) live action, a julgar pela sua relação com os padrões estéticos. (E tudo embalado por um trilha sonora leve e atual, que dá uma cara indie cool à produção).