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    Cativas - Presas pelo Coração
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Cativas - Presas pelo Coração

    Coisas do coração

    por Francisco Russo

    “Ele não era nada do que queria para mim, mas hoje é tudo o que mais quero e sonho.” Esta frase, dita por uma das entrevistadas em Cativas - Presas pelo Coração, serve como uma síntese do próprio documentário: mulheres das mais variadas idades, perdidamente apaixonadas por homens que estão longe delas, atrás das grades, falam sobre seus sonhos e angústias. Um universo feminino por natureza abordado com delicadeza pela diretora Joana Nin.

    Na verdade, a diretora começou a desbravar este universo ainda na década passada, ao rodar o premiado curta-metragem Visita Íntima. Os anos passaram, a proposta ganhou força e espaço ao ponto de render um longa. Se Cativas retorna a situações apresentadas no curta, como a revista íntima que as mulheres passam para que possam entrar na penitenciária, isto acontece simplesmente pela importância do fato diante do tema abordado. Esta, inclusive, serve simbolicamente como uma espécie de choque de realidade, um dos poucos momentos no filme em que é possível confrontar a idealização do amor com a dureza da situação vivida.

    Em seu longa-metragem de estreia, Joana está mais interessada em abordar o lado emocional em torno das mulheres que vivem um relacionamento com quem está preso. Por mais que algumas até relatem a difícil situação de viverem longe do amado, com todas as dificuldades inerentes à situação, o foco principal é mesmo no sonho do casamento e da constituição de uma família. É quando o longa ganha ares de conto de fadas, assumindo intencionalmente uma certa ingenuidade intrínseca ao romantismo. É como se a diretora tratasse suas entrevistadas de forma afetuosa, valorizando o que sentem em detrimento ao que vivem, mesmo que isto signifique a omissão de um aspecto importante.

    Diante desta proposta, é natural que o primeiro homem visto em cena – sem que esteja em algum porta-retrato - apenas surja em torno de 30 minutos de projeção. Assim como na vida real das entrevistadas, eles são figuras distantes, mais idealizadas do que esmiuçadas – este filme não é deles, não se esqueça! Sua presença ganha mais importância em cenas onde fica nítido o carinho existente nos casais formados, seja no pátio da penitenciária ou nos quartos onde acontecem as visitas íntimas. Inclusive, uma delas é registrada pelo longa-metragem, mas sem nada explicito: são corpos em movimento e o som ambiente, retratando o tesão vivenciado pelo casal naquele instante.

    Cativas – Presas pelo Coração é um documentário que explora com habilidade várias características femininas, em especial o cuidar do amado, mesmo que ele esteja longe. Se por vezes peca por não ser tão incisivo diante da profundidade do tema, por outro revela um carinho honesto e verdadeiro que, especialmente no desfecho, chega a ser tocante.

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