Sr. Holmes | Crítica
Sherlock Holmes sempre foi um personagem querido pelo grande público pelo seu poder de dedução e a capacidade de dizer o que todos pensam mas não tem coragem de verbalizar. Seja sua caracterização clássica nos livros ou interpretados por Basil Rathbone, nos quadrinhos com Bruce Wayne e seu Batman, na releitura pop de Robert Downey Jr. ou na revisão moderna com Benedict Cumberbatch.
A amizade com o Dr. John Watson era um capítulo todo especial. Afinal, ele era quem realmente nos representava nas aventuras de Sherlock. Todas as deduções, pistas e observações do magistral detetive eram compartilhadas com seu amigo e, consequentemente, conosco.
Já havíamos sido apresentados ao início da carreira do maior detetive do mundo em “O Enigma da Pirâmide” lançado em 1985 com Nicholas Rowe no papel principal, direção de Barry Levinson (Rain Man, Bom dia, Vietnã), roteiro de Chris Columbus (Esqueceram de Mim, Harry Potter) e produção de Steven Spielberg, um filme leve que nos mostra o início da amizade entre os dois personagens e introduz o maior rival do detetive: Professor Moriarty. Além disso, nos justifica o motivo de Sherlock ser um eterno solteiro. Um ótimo filme de aventura. Se não conferiu, procure que você não vai se arrepender.
Mas Sr. Holmes vai na contramão de tudo. Apresenta-nos um já nonagenário Sherlock que deixou a agitada Londres para viver em um autoexílio no interior da Inglaterra. Lá, ele divide seus dias cuidado do seu apiário, fabricando geleias e tentando escrever suas memórias. Vivendo solitário após a partida de seu fiel amigo e tendo como companhia apenas sua governanta interpreta pela sempre competente Laura Linney e o filho desta interpretado por Milo Parker, os dias passam de forma vagarosa e repetidamente.
Com o passar dos tempos, Sherlock se incomoda com a imagem que a população tem dele através dos livros escritos pelo Dr. Watson (nesta versão, Holmes é um fenômeno de vendas em livros e adaptações para o cinema) São as mesmas obras lançadas por seu criador Sir Arthur Conan Doyle, mas que no filme tem uma proximidade maior e real com o personagem adaptando as aventuras do detetive.
E nesta tentativa de reescrever seu passado, Holmes não consegue se lembrar fielmente do que de fato aconteceu. Por conta destes espasmos de memória, temos um mistério para desvendar com o grande detetive.
Mas isso é só um pedaço mínimo do filme. O grande elo é amizade entre Sherlock e o jovem Roger. A relação de mentor e pupilo é o alicerce do filme e faz com que o Sr. Holmes revisite sua história, seu passado, seus amores, seus pesares e, no crepúsculo de sua existência, consiga encontrar sua paz interna.
Um filme simples. Com uma certa inocência. Mas com uma atuação firme e contundente do grande Ian McKellen que fica boa parte da produção com uma pesada maquiagem. Mas isso só acentua o espetacular ator escolhido para conduzir o filme do diretor Bill Condon. Uma dupla de Ator e Diretor que já haviam realizado o ótimo “Deuses e Monstros” e que se repetir a história pode render, no mínimo, novas indicações de Melhor Ator e Roteiro Adaptado. Um filme doce, melancólico e com um pouco do humor britânico para toda a família.
Apenas uma curiosidade final: o Sherlock das telas da matinê assistida pelo personagem de Ian McKellen é interpretado pelo mesmo Nicholas Rowe de “O Enigma da Pirâmide”...