Pensar o humano, eis a tarefa mais árdua do homem! Questionar o comportamento da galerinha que povoa a Terra é coisa antiga, beira o surgimento dos Deuses. A filosofia oriunda de Apolo é incapaz de penetrar nos aglomerados de ações incoerentes dos bípedes, invoca-se então Dionísio, e para ela a tragédia e a comédia são oferecidas. Ambas educativas, uma no grau mais apurado, outra no populacho. Passamos a Idade Média com Dionísio bem lânguido, no entanto, antes de viramos modernos, ressuscita o teatro, a tragédia e a comédia como instrumentos para enxergarmos quem somos, como vivemos e o que escondemos.
Jason Reitman, com o “Homens, Mulheres e Filhos” 2014, bebe da mesma fonte da tragédia e da comédia. Com o enredo fragmentado em cinco principais núcleos, desenvolve conflitos relacionados ao comportamento do ser humano diante das novas tecnologias de informação. Pais e filhos são colocados em cena, como pano de fundo a tecnologia. A trama nos faze pensar: os conflitos são gerados por este cenário composto de telas, letras, algoritmos e conexão? Ou o homem há séculos (até mesmo milénios) já é doente, apenas utiliza-se hoje de novas ferramentas para externalizar o caráter frágil e altamente influenciável?
Narrado por Emma Thompson, vemos a mãe paranoica (Jennifer Garner) que persegue a filha, ao ponto de transgredir a barreira da privacidade; Adam Sandler sai das comédias e vive o drama de um pai que descobre o segredo do filho, pornografia, que logo se entrega a ela; a frustrada Donna Clint (Judy Greer) quer que a filha seja famosa, explora a beleza da loura na web; o belo Tim Mooney, promissor jogador de futebol, desiste e se isola nos jogos online. Outros conflitos são abordados, desde de bulling, anorexia, primeira transa, gravidez e romances frustrados, é só escolher o que mais se identifica.
Cabe também reflexões quanto ao respeito das individualidades. A mãe opressiva persegue a filha e anula os sonhos, é evidente o descompromisso com a autonomia da filha. Outra mãe, com sonhos frustrados, promove na filha que sonha ser modelo, um comportamento vulgar e insinuante, destruindo os sonhos dela.
Vale a pena assistir, ao desenrolar às cenas, pode-se montar um laboratório e pensar o humano, pensar o homem, doente desde antigamente, mistura-se as novas tecnologias para se curar, no entanto, se perde ainda mais. Vale a tragédia, vale a comédia, vale a tentativa de jogar e julgar na tela (smart fone, tablete, PC e cinema) o que escondemos. Vale a reflexão sobre a prática de tornar a nossa juventude, tão alheia e submissa à tecnologia, atuantes e protagonistas.