Para nós brasileiros que não sofremos com a ditadura stalinista, e que conhecemos superficialmente o movimento operário que resultou na criação do primeiro sindicato livre da Cortina de Ferro, o "Solidarnosc",sob a liderança de Lech Walesa, o filme de Andrzej Wajda revela-se vital. O mestre do cinema polonês e mundial teve como base um roteiro bem apropriado, na medida que conseguiu retratar, de forma concisa, mas ao mesmo tempo marcante, os principais acontecimentos que ocorreram na Polônia entre as décadas de 70 e 90, como as greves de 1970 em Gdansk (na qual morreram muitos operários); a eleição do Papa João Paulo II (1979); as greves que se espalharam no país em 1980 e que resultaram na criação do Solidariedade, a concessão do prêmio Nobel da Paz à Walesa (1983); as diversas vezes que Walesa foi preso e o seu discurso no Congresso Americano. E tudo isso com um clima de tensão que perpassa todo o filme. Talvez para aliviar a dramaticidade da história, que foi real, e que dói - a cena de Danuta, esposa de Walesa, sendo obrigada a ficar nua no aeroporto pelas autoridades polonesas quando volta de Olso, nos causa indignação-, Andrzej Wajda utiliza-se muito bem do recurso do humor. Destaca-se ainda a atuação de Danuta, a quem coube, praticamente sozinha, cuidar e criar de 06 filhos. Mas talvez o ponto alto do filme foi de que Wajda mostrou a todos nós um Lech Walesa real, sem cair na tentação de "glorificá-lo", como muitos temiam. O Walesa do filme é o mesmo Lech Walesa que conhecemos: tosco, que fala às vezes besteira, vaidoso. Que não tem vergonha de dizer que não gosta de ler livros. E, sobretudo, falível: acossado pelos agentes comunistas o filme inteiro, em uma das cenas, Walesa assina um documento de que iria colaborar com o regime. Mas na hora decisiva, a fidelidade ao movimento operário e a seu país falou mais alto. Quando terminou o filme, a plateia aplaudiu, de forma calorosa. Um reconhecimento de sua qualidade e de que ele tocou as pessoas.