Acabo de ver o polêmico filme Marighella, lançado em 2019 e só agora disponibilizado para os cinemas após uma série de tentativas de censuras e boicotes do governo.
Bom, se eu dissesse que o longa é um primor, estaria mentindo descaradamente. Pra começar, o filme é extremamente longo, são duas horas e vinte e cinco minutos, a estória não prende a atenção e não empolga no drama e nem tampouco na ação. Confesso que só assisti até o fim por puro interesse histórico, pois se eu fosse um espectador comum, provavelmente teria desistido antes do término da primeira hora.
Um ponto positivo a se destacar é que percebe-se que houve pesquisas e leituras por parte da redação e direção, houve um esforço sincero aqui em não florear os guerrilheiros ou amenizar a brutalidade da repressão. Os militantes revolucionários que aderiram à luta armada no combate à ditadura, não eram, em sua maioria, homens e mulheres fortes, experientes, frios, calculistas, não detinham treinamentos dignos em combate e muito menos estavam unidos em grupos coesos e bem organizados como muitos acreditavam (e ainda acreditam).
Os grupos de combate urbanos, como a ALN (Ação Libertadora Nacional), eram formados por meninos e meninas provenientes de universidades, doutores acadêmicos, políticos (fora as unidades de apoio que eram integradas por membros da igreja, jornalistas, dentre outros). Enfim, eram pessoas comuns, ideologistas e ingênuas e não tiveram tempo de adquirir experiências com armas e táticas de guerrilha. No filme, os militantes agem com claro amadorismo, descuido e até mesmo o Marighella comete erros crassos como, por exemplo, tentar pessoalmente contactar seu filho em local aberto, desprotegido e sem qualquer suporte tático ou rota de fuga.
O longa trata também de deixar bem claro o apoio tático, financeiro e ideológico dos EUA à ditadura, o que, a meu ver, também merece destaque positivo. A censura e o apoio midiático aqui destacado foram de extrema importância no combate à esquerda armada. Após a intervenção do perverso delegado Lúcio (que, na verdade, se trata do macabro e famigerado Paranhos Fleury, interpretado muito bem por Bruno Gagliasso), a mídia e os cartazes deixam de se referir aos militantes como revolucionários ou subversivos e passam a rotulá-los como "terroristas" e bandidos. Além, é claro, de omitirem suas ações revolucionárias de expropriações e justiçamentos e simplesmente chamá-las de roubos, assaltos e assassinatos cruéis e banalmente comuns. O que, obviamente, acaba com os ingênuos planos de Marighela e seu grupo de conquistarem a adesão popular em sua luta contra a ditadura militar.
Enfim, minhas expectativas não eram muito elevadas e só assisti por causa de todo o estardalhaço causado pelas tentativas frustradas do governo em censurá-lo (houve até ação armada de bandos encapuzados a assentamento do MST no qual se transmitia o filme) e confesso que elas não foram superadas. No quesito histórico, foi bom, diria até que muito bom. Mas no que realmente importa, que é prender a atenção e manter o interesse do público comum (que é o público alvo, creio eu), o longa não teve tanto êxito. Todavia, Marighella se faz necessário e pertinente em tempos sombrios onde se perdeu o sentido do que é ser patriota. O que significa ser patriota, literalmente dar o sangue pelo país e por uma causa na qual se acredita como fizeram os protagonistas ou prestar continência à bandeira dos EUA?