São grandes produções que circulam pelo currículo do diretor Jon M. Chu: de três filmes da franquia Ela Dança, Eu Danço, a biografias do cantor Justin Bieber, o americano já chegou a dirigir de tudo um pouco. Seu trabalho mais recente é a adaptação da série animada de nome homônimo: Jem e as Hologramas (2016), que já estreou em seu país de origem, mas por ser um flop certeiro ainda não chegou às telonas tupiniquins — e provavelmente não vai chegar, quem sabe somente em DVD. Sendo assim, o auge do diretor se encontra em G.I. Joe — Retaliação (2013). Contudo, mesmo assim, o longa não é de todo perfeito. Dito isso, só nos resta pensar: o que andou pela cabeça dos produtores de Now You See Me (no título original) ao contratar M. Chu para dirigir a sequência de um dos maiores fenômenos de 2013? A resposta mais provável é clara: o dinheiro, com o qual com M. Chu economizariam bastante. O resultado dessa empreitada é claro: ao final de tudo, o prejuízo — nas bilheterias — foi inevitável.
Os Quatro Cavaleiros, após enganarem o FBI, são foragidos federais e vivem na surdina. Mesmo assim, eles continuam sendo um sucesso mundial e têm como próximo ato desmascarar um gênio da informática. Porém, o jogo vira, e os Quatro Cavaleiros se veem enfrentando um inimigo desconhecido que fará de tudo para quebrá-los.
"Perdeu-se a mágica". Esse, no geral, é um dos maiores erros da recente sequência. Enquanto no filme de Leterrier, mesmo com sua ação frenética, cada ato do filme se abria com um ato de mágico incrivelmente engenhoso, aqui esse elemento — um dos principais da franquia — se encontra escasso, se não desvalorizado. Há apenas duas cenas em que uma mágica ou outra se faz presente, e apenas uma delas não está ali para ocupar espaço. Fora isso, O Segundo Ato perde boa parte da mágica, e sendo assim, automaticamente, perde um pouco de sua identidade — é fácil comparar a sequência a um longa do 007: o grupo de cavaleiros é enviado a determinada missão — missão esta acompanhada de cenas de luta sem emoção e tiroteios pouco massivos — na qual eles vão se ferrar bastante mal ao final tudo acabará bem.
Isla Fisher, que interpretava a personagem Henley em Truque de Mestre, não dá a cara na sequência. De todo, isso não é ruim, já que a personagem só estava ali por interesse amoroso. Mas para o fã assíduo do primeiro filme, não há um diálogo se quer explicando aonde a personagem fora parar e nem disso M. Chu e os roteiristas Ed Solomon e Boaz Yakin tiram proveito: em Truque de Mestre, embora mal desenvolvido, havia certo interesse romântico entre a personagem de Henley e Daniel Atlas (Jesse Eisenberg). Com a saída de Fisher do elenco, o roteiro poderia explorar como isso afetou Atlas, para que assim desenvolvesse mais o personagem; contudo, nem isso é feito, nos levando a outro erro: não há se quer o desenvolvimento de personagem, exceto o de Dylan Rhodes (Mark Ruffalo); mas no final tudo se torna repetitivo novamente: o personagem de Ruffalo se volta sempre para a traumatizante morte do pai e de lá nunca sai.
Mas Henley ganha enfim sua substituta: a atrapalhada Lula (Lizzy Caplan), que compensa a ausência de Fisher pelo seu carisma. Mas ao final, a personagem sofre o efeito do resto do elenco, que é o vazio quanto ao desenvolvimento. E o que falar de Li, personagem de Jay Chou, que aparece no pôster oficial e chegou até a ganhar um individual (!) e apesar de tudo mal consegue ter uma cena importante — nem se quer uma de longa duração; e também há o desperdício de talento: de alguma forma conseguiram fazer um filme com Morgan Freeman e Michael Cane ser insuportável de assistir.
E se há um erro que a saga carrega desde o seu primeiro é quanto às explicações dos truques. O filme está em seu ritmo frenético, e de repente precisa parar, quebrar todo o seu clima, para que enfim algum ator com roteiro decorado de có a salteado explique ao truque. Claro que, afinal, a explicação é necessária, mas o fato é que os roteiristas não souberam como abordar esta de uma maneira menos boba e ridícula, diga-se de passagem.
Contudo, esse não é o maior erro dos roteiristas. O roteiro em si se prova um erro, de tão repetitivo e nada criativo que é. A única solução ara uma continuação plausível a Truque de Mestre seria enfim abordar discretamente a Organização Eye, mas raramente ela é citada, e quando é não se tem clareza, provavelmente deixando o espectador bastante perdido. Fora isso, o roteiro oferece uma reciclagem do primeiro, só que bastante pior.
Mas, calma! O Segundo Ato tem seus pontos positivos, inclusive no roteiro. Se por um lado no filme de 2013 Leterrier explorava o fato de como as pessoas eram enganadas tão facilmente e como gostavam disto, o roteiro de Segundo Ato aborda diversificados pontos: como a tecnologia atual prejudica bastante a nossa privacidade — um assunto bem delicado nos Estados Unidos, devido ao caso Snodew; e usa o confronto do velho e do novo: o velho, presente no grupo de mágicos, e o novo, no antagonista de Daniel Radcliffe, Walter Mabry. E mesmo com um roteiro reciclado, o filme tenta se mascarar revertendo a situação, o que não dá certo. Talvez, o ingrediente que mais faça falta em Segundo Ato e que se fazia bastante presente em Truque de Mestre seja o dinamismo.
Das atuações há o que falar de Eisenberg e Radcliffe. Recém saído das gravações de Batman Vs Superman — A Origem da Justiça (2016), como Lex Luthor, Eisenberg não renova em seu papel, reprisando a mesma performance em que mostra em seus trabalhos, dessa vez ainda carregando algo de Luthor nas costas — os maneirismos e o olhar sádico. Mas quem se revela surpresa é Radcliffe. Se distanciando — e muito — pela primeira vez do personagem que marcou sua carreira, Harry Potter, Radcliffe, ao contrário de Eisenberg, dá uma ótima performance, compondo um vilão crível, mostrando que o ator tem bastante potencial para ir longe.
Contudo, no geral, o filme mal vale para o fã. Resumindo-o ao todo, é pura enrolação de uma hora e meia; o "negócio" fica bom nos trinta minutos finais: é lá que começa o Truque de Mestre que você veio buscar vê, mas ai as cortinas já estão se fechando, as luzes se apagando, e o espectador tem a sensação que gastou tempo — e dinheiro — aos quatro ventos.
Nota: 5.0/10