"Não sou nada/ Nunca serei nada/ A parte isso tenho em mim todos os sonhos do mundo". Esse trecho, extraído do poema Tabacaria, de Fernando Pessoa, nos revela a pequenez do indivíduo frente à imensidão do mundo. O filme "Pelo Malo" (título não traduzido para o português) é, antes de tudo, um aprofundamento da vida humana, a qual não se faz somente pela ação do indivíduo. É construída, antes de tudo, pelo meio no qual ele está inserido.
Apesar de parecer, num primeiro momento, detentor de uma temática clichê, o filme venezuelano é uma obra-prima. As condições humanas não são expostas de modo simplista, solto, sem nexo. Tudo que ali é mostrado é uma reflexão, a qual, postergada nas mentes humanas, torna-se uma crítica.
O cabelo da protagonista é o embate social entre o que imposto e o que é almejado. Parte daí um embate, até marxista, de elementos como escola, amigos, família e vizinhança, estruturando-se um discurso determinista, mas, ao mesmo tempo, inócuo frente ao indivíduo.
As relações sociais expostas no longa são consequências da exclusão social, da falta de acesso à educação, do desafeto, dos interesses cruéis e instintivos. Há aí uma noção do efeito de uma sociedade economicamente estruturada na vida de grupos marginalizados.
O filme é realístico, verossímil e emocionante. Desemboca numa realidade muito percebida nos países da América Latina: a intrínseca desigualdade social acumulada historicamente pela colonização exploratória. Buscar a história de "Pelo Malo" é, também, buscar entender a nossa realidade, isto é, nossa organização social e nossa composição pessoal.