Eu vou começar essa crítica falando sobre o Jake Gyllenhaal. O nome dele está no pôster do filme, mas eu assisti ao filme inteiro e não vi o Jake Gyllenhaal. Sim, eu vi um cara muito estranho e assustador, mas aquele não era o Jake Gyllenhaal, aquele era alguém completamente diferente. É, Jake Gyllenhaal é tão bom assim. E não há muito mais o que falar sobre a performance dele. Quando um ator se transforma em um personagem da forma que o Jake Gyllenhaal se transformou nesse filme, a própria performance fala por ela mesma. E eu não vou nem falar a minha opinião sobre o fato de ele não ter sido nem indicado ao Oscar de Melhor Ator Principal.
E a atuação do Jake Gyllenhaal me leva a outro aspecto brilhante do filme: o roteiro. Meu Deus, esse roteiro é incrível! Eu adoro ver psicopatas (ou, nesse caso, sociopatas, eu acho, não tenho certeza) em filmes, sabe? E quando um personagem desse tipo é tão brilhantemente escrito ao ponto de torcemos por ele, pois nós o entendemos e sabemos como a cabeça dele funciona, eu fico simplesmente fascinado. Louis Bloom é aquele tipo de sociopata que parece pesquisar a respeito de como se portar na frente das pessoas, mas é notável que tudo que ele fala não sai naturalmente. Sai ensaiado, pois ele não sabe lidar com outras pessoas. E, além disso, ele não entende os limites morais e éticos da sociedade. Se ele quer uma coisa, ele vai lá e toma, como se ele estivesse acima dessas regras morais e éticas. Na minha opinião, "O Abutre" tem o melhor estudo de personalidade que eu vi em qualquer filme de 2014.
Outra coisa que torna esse roteiro tão brilhante é o personagem de Bill Paxton, que nós deveríamos ver como o vilão do filme, mas ele é apenas um concorrente. O verdadeiro vilão do filme é o próprio Louis. Ou seja, nós sabemos que o que ele faz é errado, nós temos plena consciência de que Jake Gyllenhaal é o vilão do próprio filme, mas, mesmo assim, o personagem dele é tão brilhantemente escrito, que é simplesmente inevitável torcer por ele.
"O Abutre" foi a estreia de Dan Gilroy. Além disso, o filme foi escrito por ele mesmo também. E eu consigo imaginar esse projeto tendo mais estilo nas mãos de um diretor mais experiente, como David Fincher, por exemplo. No entanto, eu realmente não tive nada contra a direção de Gilroy. Muito pelo contrário, quando eu terminei de ver o filme e pesquisei a respeito dele, fiquei impressionado ao descobrir que essa era a estreia do diretor. Eu nunca imaginaria que esse filme havia sido feito por alguém que nunca dirigiu um filme na vida. Gilroy é confiante e sabe o que está fazendo atrás da câmera. Ele é evidentemente apaixonado por Los Angeles, o que eu pude notar através das imagens que ele capturou da cidade à noite. E eu adorei isso, pois essas imagens me colocaram no clima do lugar e me fizeram sentir como se eu realmente estivesse nas ruas de Los Angeles. E, como eu já disse em algumas outras críticas, é isso que eu espero de um filme: que ele me tire da realidade e me leve para outro lugar.
Outro detalhe notável a respeito da direção de Dan Gilroy foi uma cena de perseguição que acontece no meio do filme. Ela foi impressionantemente executada. Muito bem gravada, empolgante e tensa. Então, levando todos esses fatores em conta, eu acho que, para alguém que estava dirigindo pela primeira vez, Dan Gilroy fez um excelente trabalho. E eu sinceramente espero pelos seus futuros trabalhos.
Somando tudo isso, o filme nos faz pensar muito a respeito da mídia sensacionalista. Eu nunca gostei de mídia sensacionalista, principalmente jornalismo sangrento e explícito. É chocante saber que existe esse tipo de pessoa, que passa por cima do que for para conseguir uma boa filmagem das tragédias alheias. E mais chocante ainda é saber que é isso que o povo gosta de ver. Se as emissoras compram esse tipo de material, é porque o público gosta de ver. Inclusive, o Louis faz uma observação sobre o tempo que é dedicado a cada tipo de assunto no jornal, e acidentes, incêndios e crimes são os que recebem mais espaço. Então, o filme não nos leva a pensar apenas na insensibilidade das pessoas que invadem as tragédias alheias para filmá-las sem nenhum tipo de autorização ou consentimento, mas também no fato de que é isso que o povo gosta de ver. Hoje em dia, ao invés de estender uma mão e oferecer ajuda ao próximo, as pessoas preferem ocupar essa mão com uma câmera.
No final das contas, "O Abutre" é uma excelente estreia de Dan Gilroy como diretor e Jake Gyllenhaal está absolutamente incrível. O filme é um tenso e chocante estudo da personalidade de um sociopata, além de nos dar uma realista e instigante visão a respeito da mídia sensacionalista. É um dos meus filmes preferidos de 2014 e recebe, com certeza, 5 estrelas!