Um dos primeiros ensinamentos que qualquer professor de jornalismo de qualquer faculdade do Brasil repassa para seus alunos é que, não se mostra sangue na televisão. Mas não fique você pensando que, o que ocorre em O Abutre esteja longe da nossa televisão.
O filme traz uma critica social, ética e moral. Essa critica se baseia na divulgação de imagens de crimes urbanos sem a menor preocupação de ter apuração de quaisquer dados sobre o acontecido. “As imagens falam mais que mil palavras” é uma frase levada muito a sério nesses telejornais, que usam do extremismo do sensacionalismo para vender acontecimentos e aumentar a audiência.
Fazendo especulações baseados em imagens que são feitas visando o lucro, e não tomando por referência a busca sobre o que realmente aconteceu, esses telejornalismos sugam qualquer preceito ético. Acaba por desenhar determinada situação para quem assiste esse tipo de notícia, onde, a insegurança cresce muito mais do que realmente seja.
Mas, não fique você pensando que isso é coisa de americano. Aqui no Brasil, esse tipo de jornalismo já fez escola. Quantas vezes você já viu o Datena aos gritos pedindo imagens que chegaram agora, onde, ele mesmo faz o julgamento do que realmente está acontecendo? Quantas vezes você já ouviu o Marcelo Rezende e seu fiel escudeiro cuspindo ideias sobre algo que estava acontecendo? E usando imagens vazias para criar expectativas de que algo vai acontecer, sem mesmo que elas saibam o que vai realmente acontecer algo relevante e que mereça ser publicado
Qualquer julgamento sem apuração devida sobre qualquer assunto é brincar com algo muito sério e complexo, pois, provavelmente o canal de transmissão tenha a credibilidade social que leva a todos que acreditam que aquilo que é falado ou republicado neste canal seja verdadeiro.
Lou Bloom é somente um aproveitador barato, ambicioso por sucesso, seja de reconhecimento ou financeiro e com uma leve inclinação para sociopatia. E que vê nessa brecha ou nessa conveniência de gravar acontecimentos sangrentos na noite de Los Angeles uma oportunidade de fazer dinheiro fácil. A interpretação de Jake Gyllenhaal é brilhante, pois, seja na aparência daquele louco de fome ou na fixação do olhar quando começa a filmar é no mínimo, indicação ao Oscar.
O ritmo do filme é bem envolvente, e seu assunto vai ser discutido por muito tempo, pois, nada mais é que invasão de privacidade de qualquer um, até mesmo a de um morto. Isso nos remete ao nosso comportamento atual, seja em redes sociais, na nossa casa e nas atitudes que temos socialmente. Não importa, esse tipo de assunto é o reflexo de nossa sociedade, hoje. E nada melhor que o cinema, dar uma chacoalhada na sociedade.