É um filme dinâmico e tecnicamente muito bom. Ele parte da visão do protagonista Leandro que, ao colher provas para elaborar um dossiê a favor de sua mãe, sobrevivente de abusos cometidos durante a ditadura militar, descobre o lado imoral da já conhecida "indústria do dano", em que, através de ação judicial, se recebe uma indenização desproporcional ao prejuízo de fato sofrido. Neste contexto, ele vai confrontando as incoerências dos documentos obtidos com a realidade supostamente vivida por sua mãe e por tantos outros anistiados, que também buscam por uma indenização justa. Sem restringir a abordagem ao período referido, o filme faz paralelos com a atualidade e, principalmente, com os protestos e manifestações, apesar de ter sido concluído em 2012, antes desta onde de movimentação nas ruas. Não acho que o filme tenha uma visão negativa das pessoas, simplesmente taxando-as, de modo geral, de individualistas e egoístas por trás de uma vítima desprotegida e frágil ou de um falso engajamento social, mas o que ele quer é mostrar isso, esse tipo de atitude, muitas vezes difícil de perceber, em que as pessoas se mascaram, com suas chantagens emocionais, belos discursos e ideologias. Ele não generaliza, apenas evidencia para ficar mais claro, e para nós refletirmos sobre nossas incoerências e sobre as dos outros.