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    Educação Sentimental
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    3,4
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    Ranon B.
    Ranon B.

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    0,5
    Enviada em 1 de dezembro de 2014
    Algumas obras não se encaixam nas câmeras. Obras como essa são próprias para a literatura, deixando o leitor imaginar, não dando cenas ilustrativas.
    Phelipe V.
    Phelipe V.

    492 seguidores 204 críticas Seguir usuário

    5,0
    Enviada em 30 de outubro de 2013
    O cinema de Júlio Bressane não é fácil. Não é mastigado, nunca é explicito, e definitivamente, não é algo fácil de aceitar por todo mundo. Em anos e anos de carreira, ele nunca fez questão de facilitar sua abordagem pro público. E ainda bem que não. Esse seu novo filme, Educação Sentimental, é mais uma peça reflexiva da filmografia do diretor, e de certa forma, até cumpre o que o título sugere, em relação ao seu próprio público. Há, sim, uma relação bem escondida ali, nas entrelinhas, de educar o público, não só em relação ao cinema, mas à arte em geral. E até uma relação de passado influenciando no presente, que fica explicita.

    Aliás, por meio de Áurea e Áureo, ao colocar professora e aluno frente a frente, o filme vai desenhando tudo aquilo que ele quer dizer. E Bressane não tenta esconder que está homenageando, aqui, toda e qualquer representação artística. Aliás, as sete artes estão expressas no filme de diversas maneiras: a arquitetura daquela casa, bastante peculiar; a escultura, focalizada algumas vezes; a pintura, que gera diversas cenas lindas com a câmera focando em quadros, ou até quando estão na cena, mas em segundo plano; a música, que vira e mexe ressoa no filme (que é brilhantemente mixado e editado), inclusive dentro do próprio diálogo dos personagens; a poesia, tanto no lirismo do diálogo, quanto na protagonista exibindo todo o seu conhecimento acerca da literatura e dos poetas que morreram cedo; a dança, que gera cenas lindamente bizarras no filme; e, sim, por último, o Cinema, em todas as formas possíveis.

    Porque esse Manifesto (claramente pode ser entendido assim) é Cinema em estado bruto. O cineasta nessa última fase da sua vida tentou experimentar, de todas as formas, a linha, para alguns intransponível, do Cinema e do Teatro, e foi muito bem sucedido. Mas dessa vez, foi além. Se não for o último filme do Júlio, eu diria que há um outro possível ponto de transição aqui, pois além de todas as outras características dessa fase, podemos também perceber como a metalinguagem está inserida no contexto. Não só por ele chegar ao limite de colocar uma cena em que as cortinas de um teatro se abrem (!!!!) pra que a sequência se desenvolvesse ali, entre duas bordas vermelhas, mas de modo que "filme" em si. Como quando focaliza câmeras, lâmpadas e microfones, ou quando Áurea exibe sua paixão por cinema (que, pra ela, passou, numa metáfora muito sarcástica nesse roteiro, inclusive) por meio de recortes de rolos de filmes. Seria um lamento do diretor sobre as novas tecnologias que estão se sobrepondo ao antigo Cinema? Seria uma queixa sobre a possível morte do Cinema? Até porque tudo o que concerne à narrativa aqui, é explicar, tentar compreender e demonstrar uma linguagem cinematográfica totalmente diferente, elevada a outros níveis.

    Quando transforma a própria trama em uma metáfora visual e, acima de tudo, sentimental, não traduzindo jamais a natureza dos dois retratados naquelas cenas, e a profundidade da relação de ambos, o longa se arrasta até um patamar em que é possível questionar a integridade dos atos praticados por ritmo próprio, a modelo de quando Áurea se coloca batendo com o quadril em meio a diversas tentativas de abrir uma porta trancada, e em seguida entra numa sequência que parece ser dirigida por alguma instrutora de dança contemporânea, o que imediatamente leva à reflexão sobre a função da cinematografia. Mas, se a protagonista cumpre com a função de "educar o educando", fica cada vez mais explícita a dicotomia verbal nos diálogos, que remetem, rapidamente, a elementos do cinema de Bressane, desde os primórdios: o rebuscamento, a falta de improviso, a negação da verdade, distância parcial da realidade e uma presença constante da sexualidade, velada ou não.

    O que leva, inevitavelmente, à terceira personagem do filme. A mãe. Que é modificada e propositalmente desconstruída para ser colocada à margem de uma perversão sexual. Em sua única cena de interação com Áurea, é tudo colocado ali. O choque vem, e vem rasgando. Incesto, Édipo, orgias, suicídio, gerontofilia... a naturalidade com que todos esses assuntos são inseridos é uma maneira de dizer: "olha, tudo isso aqui é Cinema, e no Cinema pode tudo". E a personagem, fria e calculista, que usa disso para tentar afastar a "coroa pornô" (sic) do próprio filho é, em minha concepção, um braço do público. Não a toa a câmera sai dos dois personagens que encabeçam a trama, quando ela entra e os segue na rua. É a total representação do espectador.

    Num geral, de todos os filmes dessa fase do Bressane (que vem desde Dias de Nietzsche em Turim), acredito fortemente que Educação Sentimental seja o filme que mais sintetiza, e faz muito bem, tudo o que o diretor pensa e quer passar com essa nova estética. Precisa ver e rever. Um experimentalismo muito difícil de se avistar, principalmente no Cinema Nacional, e muito bom de se acompanhar ao mesmo tempo. Graças, também, à atuação de Josie Antello. Entregue e completamente submersa nessa professora cheia de fantasmas emocionais. Inexoravelmente, o filme não se rende às lamúrias do público, ao contar uma história de forma estranha, e ter uma linguagem muito própria, porque afinal, é tudo expressão artística, deixa muito claro. E é isso que um dos maiores gênios do nosso país, o cara por trás desse filme, faz: arte. Pura e simplesmente. Por mais estranha que possa parecer.
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