O quebra-cabeças da montanha
por Renato HermsdorffA Montanha Matterhorn é uma bela estreia na direção de longas-metragens do cineasta holandês Diederik Ebbinge. Partindo de uma história simples, que ganha camadas à medida em que avança, um dos grandes méritos do filme está na sutileza das interpretações, principalemte dos dois atores centrais.
Fred (Ton Kas) é um homem de 54 anos, solitário, metódico e religioso. Sua rotina é alterada quando topa com Theo (René van 't Hof), um sujeito esquisito, perdido, que apenas balbucia algumas palavras e parece ter algum tipo de deficiência mental.
A história se passa em uma comunidade de uma pequena cidade da Holanda. E, como em cidade pequena, a boca pequena, em geral, corre solta, a relação entre os dois passa a ser vista com desconfiança pela população local, sobretudo por um recalcado carola (Porgy Franssen).
Mais não é bom saber de antemão, afinal, as situações banais vão ganhando sustância, e o desencadeamento vai descortinando emoções e preconceitos.
Em alguns momentos, o filme é um pouco lento, arrastado, e você não entende por que os personagens não reagem a determinadas provocações – uma diferença cultural, certamente, em relação ao sangue latino. Em outros, a despeito de toda sutileza que o filme traz, algumas ações são explicadinhas demais, diminuindo a força de determinados conflitos.
Nada que estrague o resultado final, porém. Tecnicamente, Diederik Ebbinge mostra que tem o domínio da câmera, apostando em enquadramentos não só bonitos, mas funcionais. No campo da ação, a narrativa dramática é construída de modo a sempre faltar uma peça, o que prende a atenção do espectador, ansioso pela cena seguinte.
Fred janta todo dia pontualmente às 18h. No fim da refeição, sempre fita um quadro na parede, com uma mulher e uma criança. Quem são? Todo domingo, Fred leva Theo para a celebração na sua igreja, o que desperta a ira de Kamps (o religioso). Por quê? Não tenha pressa. As respostas são entregues no tempo certo.