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    Variações de Casanova
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Variações de Casanova

    ‘Quero Ser Giacomo Casanova’?

    por Renato Hermsdorff

    Giacomo Casanova foi um escritor italiano do século XVIII. Mas ficou conhecido mesmo como um “aventureiro”. Ou, melhor: um libertino. Arquétipo do conquistador, foi vivido no cinema de Fellini (Casanova de Fellini, de 1976); por Heath Ledger, em 2005; encarnado na TV por David Tennant, no formato de minissérie; e é tido como uma das principais inspirações para “Don Giovanni”, famosa ópera composta por Mozart, com libreto de Lorenzo Da Ponte (de quem Casanova era amigo) – e em parte retratada em Amadeus (1984).

    Variações de Casanova, o filme, é aberto com o discurso proferido por um ator, interpretado por John Malkovich, que se ressente (ou não, convenhamos) de não conseguir executar aquilo que, em tese, seria a essência do próprio ofício: A repetição.

    No longa dirigido pelo austríaco Michael Sturminger, Malkovich não é penas “um ator”: é o próprio John Malkovich e também Casanova, numa linha temporal paralela. Numa ou duas, diga-se.

    Explicamos: Dentro do filme há uma peça sendo encenada, nos dias atuais, no teatro São Carlos, em Lisboa, que tem John Malkovich como ator principal, interpretando, entre outros personagens tirados de trechos de óperas de Mozart, o próprio Don Giovanni. Pontualmente, também os bastidores da montagem são revelados (como numa cena em que uma espectadora conversa com Malkovich sobre o papel dele em Ligações Perigosas, de 1988).

    Ao mesmo tempo, somos transportados para um palácio (uma locação, portanto), no século XVIII, onde Casanova (vivido por quem? Sim, Malkovich), velho e falido, recebe a visita de uma misteriosa jovem senhora, Elisa (Veronica Ferres). Quer mais? A produção é baseada na peça homônima de autoria do próprio realizador.

    O resultado é um sofisticadíssimo exercício de (meta)linguagem que mescla cinema, teatro, ópera, literatura (e, por quê não, reality?), no qual Sturminger engana a plateia (você mesmo) a todo momento. Seja através da escolha meticulosa do que o cineasta decide revelar no quadro, seja quando ele se vale de cortes imperceptíveis, os momentos em que o espectador descobre realmente onde (em que palco) está pisando são os mais inventivos do filme.

    É como se o diretor atestasse (sabidamente): Se é para retomar uma história já tão explorada pelo audiovisual, que ao menos se evite a repetição – e se invista nas variações. O maior problema é que há um investimento tão forte na forma, que o conteúdo é relegado a segundo plano, resultando numa trama confusa em alguns momentos (sobretudo a partir da segunda metade).

        

    Embora, aparentemente, o figurino de época usado por Malkovich remeta imediatamente ao papel do Visconde de Valmont no já citado Ligações Perigosas, conceitualmente, a sobreposição de camadas de Variações de Casanova está mais para a maluquice provocativa de outra produção estrelada pelo ator: Quero Ser John Malkovich (1999). Um tipo... ‘Quero Ser Giacomo Casanova’?

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