Entre a novela brasileira e o filme francês
por Renato HermsdorffQuando uma artéria responsável por levar oxigênio ao coração falha, a consequência pode ser um infarto. E ela “falha” normalmente por estar obstruída por acúmulo de gordura, mais provável de ocorrer, claro, com o passar dos anos. Ou seja, uma dieta equilibrada, associada à realização de exercícios físicos regulares é a forma mais eficiente de prevenir o ataque cardíaco.
Esse é o drama vivido por Antoine Chevalier (Lambert Wilson, de Medos Privados em Lugares Públicos (Coeurs), assim que acumula 50 primaveras. Um destino lamentável (mas ele sobrevive), é preciso dizer, porém até comum se considerarmos a idade do personagem. A esse ponto, você deve estar imaginando Chevalier como um glutão sedentário com sobrepeso que não sabe se comportar em frente a uma tigela de pudim, certo? Pois pensou errado.
Antoine não tem barriga, leva uma vida de atleta (amador) e come muito bem, obrigado - não sem fazer determinados sacrifícios alimentares, abrir mão de certos prazeres da mesa (nada de pudim, portanto). A partir do momento em que seu coração falha, ele decide chutar o balde – ou a mesa.
É dessa quebra de paradigma que se desenrola a ação de Sobre Amigos, Amor e Vinho. Uma pena que, de uma premissa tão original e interessante, o diretor francês Eric Lavaine entregue um filme tão irregular.
Do tripé escolhido para vender o filme no Brasil, amigos, amor e vinho (o título original é Barbecue, algo como “churrasco”), o primeiro grupo é o mais importante para a trama. Poucos filmes têm como personagens centrais uma turma dessa faixa etária, entre os 50-60 anos de idade, o que se revela uma opção, se não original, pelo menos pouco explorada.
Acontece que os personagens são tão rasos, quanto caricatos. Tem o trocado pela esposa, que é só “o trocado pela esposa”; o endividado, que faz só o papel de “o endividado”; o chato, que não faz nada além de ser “chato”, e por aí vai. E tem a brodagem da amiga prafrentex que curte futebol (sim, trata-se
de uma mulher), esse sim, um personagem com um mínimo de sutileza, muito bem interpretado por Florence Foresti (Hollywoo). No mais, lembra uma "novela das sete".
Depois do piripaque, todos embarcam para as tradicionais férias do grupo (insira aqui uma paisagem linda), onde o protagonista passa a se comportar de maneira “estranha”. É quando ele abusa do vinho, simbolicamente, do título, e adota uma postura arrogante em relação aos amigos. É um comportamento crível e justificado, ao contrário da construção dos personagens.
Mas e o amor? Embora tenha menos “tempo de tela” dos que os amigos e o vinho é o aspecto mais bem resolvido da história, onde se identifica um filme (francês, aliás), e não um folhetim cômico da Globo.