Em Negócio das Arábias Tom Hanks vive mais uma vez um forasteiro em terras que lhe são estranhas e hostis. No entanto, diferente de O Terminal onde seu personagem parte de uma fictícia Krakozhia para os Estados Unidos, agora o ator dá vida à Alan Clay, um homem de negócios que sai da terra do Tio Sam rumo à Arábia Saudita.
Às pressas e sem muita informação, Alan parte numa missão sem qualquer planejamento ou estratégia. A serviço da empresa, terá que vender um super software de holograma para o rei, que está construindo uma complexa cidade no meio do deserto.
O diretor Tom Tykwer faz mais uma vez uso de recursos linguísticos e gráficos que dão a seus filmes algo de inusitado, como na cena principal de Perfume: A História de um Assassino onde vemos uma multidão numa espécie de transe de sentidos e sensações, ou na inclusão de animações em Corra Lola Corra, além dos diferentes desfechos da história. Negócio das Arábias é, sem duvida, o filme mais careta do diretor, mas tais recursos ainda se fazem presentes, ainda que em menor escala.
Não temos nem a velocidade de Corra Lola Corra ou a crueldade de Perfume. Em Negócio das Arábias o diretor inicia a história em ritmo acelerado, com pequenas quebras da quarta parede e alguns grafismos que, de inicio, dão a expectativa de que veremos algo tão extravagante quanto seus outros filmes. Porém, essa força e velocidade inicial vão se perdendo e se encaixam nos moldes da história que se quer contar. Um agradável tom de humor e pequenos dramas vividos pelo personagem principal fazem do filme uma produção bem mais silenciosa dos que os outros trabalhos do diretor e do ator principal Tom Hanks.
A ação do longa gira praticamente em torno de Alan Clay, seja pelos relacionamentos com a filha e a ex-mulher que deixou para trás, ou em suas novas descobertas nas terras do rei, onde mal conhece tradições e costumes. Vemos neste cenário um contraponto interessante, a economia americana em recessão e os mercados concorrentes fazendo sombra às empresas. Se completa então uma inversão, não de valores, mas de papéis. Os americanos, representados por Alan e sua empresa, precisam adequar-se a diversas normas, ou simplesmente esperar pela sua vez. Ou seja, não são mais o centro das atenções, ao menos não neste cenário.
Em certos pontos, Negócio das Arábias parece indeciso entre ser um drama ou uma comédia, mas esse impasse reflete muito bem os problemas de seu personagem principal que, primeiro, precisou deixar seu país na busca de alguma solução para seus problemas financeiros e pessoais, e, num segundo momento, enquanto tenta se adaptar aquela nova realidade, repensa seu passado e aos poucos olha diferente para possibilidades do futuro.
Baseado no romance “Um Holograma para o Rei”, nome original filme, Negócio das Arábias segue num ritmo peculiar e perigoso entre o calmo e o devagar. Fica sempre a impressão de que algo maior vai acontecer, uma grande emoção ou descoberta, uma reviravolta na história que parece cada vez mais lenta, propositalmente se distanciando do início agitado e do antigo estilo de vida do personagem principal.
Tom Hanks e Tykwer voltam a trabalhar juntos depois de A Viagem e, embora isso não deva causar grande alarde, Hanks tem uma boa atuação, mesmo com um papel bem mais brando. Quando contracena com Alexander Black, o engraçado amigo saudita Yousef,
o ator americano parece recuar, diminuindo seu tom e deixando o companheiro ter maior destaque nessa horas. São bons momentos do filme.
De forma geral esse é o tom de Negócio das Arábias. São gestos curtos, volume baixo e uma aparência modesta, tranquila, mas que vai se revelando mais complexa do que parece.