O exótico Oriente
por Bruno CarmeloSe você assistiu ao trailer oficial deste filme, percebeu duas representações culturais extremas, vistas como opostas: por um lado, os Estados Unidos com seu ideal asséptico de família, propriedade e consumo, e por outro lado, uma Arábia Saudita caótica com seus desertos e penas capitais. Ou seja, por um lado existe a ideia de paz e civilidade, por outro, a noção de perigo e barbárie. Na trama, o empresário Alan Clay (Tom Hanks) deve fazer a travessia entre os mundos incompatíveis para vender uma tecnologia holográfica ao rei.
A narrativa parece se limitar à visão estereotipada da alteridade, e durante boa parte da projeção, é justamente isso que faz. Tom Tykwer, diretor de imagens extravagantes, abandona o realismo ao retratar o país distante como um mundo de excessos, com seus hotéis grandes demais, desertos vazios demais, pessoas atrasadas demais. Tudo está fora da ordem, enquanto a América é vista simetricamente como um território tão regrado que chega a ser enfadonho. O encontro de opostos, portanto, tem o efeito a autodescoberta: o fracassado Alan descobre em si mesmo uma força e uma paixão que não possuía antes.
Negócio das Arábias flerta com obras leves de cunho turístico, em estilo Comer Rezar Amar, mas o cineasta consegue adotar um tom particularmente absurdo através das repetições. Pequenas ações no dia do empresário são vistas três, quatro vezes cada, imprimindo uma noção de inconsequência que funciona bem à caracterização do protagonista. Infelizmente, o roteiro não sabe muito bem o que fazer com os demais personagens: os colegas de trabalho de Alan são tristemente subaproveitados, enquanto uma funcionária dinamarquesa (Sidse Babett Knudsen) é utilizada de maneira irregular, deixando a impressão de possuir uma importância maior na obra literária que deu origem ao filme. A narrativa, na primeira metade, anda em círculos.
O ritmo melhora consideravelmente na segunda metade. Embora o roteiro entre no terreno clássico do romance através do encontro com uma bela médica (Sarita Choudhury), pelo menos a montagem desacelera, os clichês da visão estrangeira se atenuam, e o roteiro encontra um foco. Pode não ser exatamente uma construção inovadora, mas a dupla de atores é bastante eficaz, e o alívio cômico proporcionado pelo motorista Yousef (Alexander Black) também funciona. Percebe-se que Alan não é o único a buscar seu caminho: a narrativa tateia entre comédia, drama, romance e realismo fantástico antes de encontrar uma rota coesa via história de amor.
É difícil dizer que Negócio das Arábias contenha alguma cena marcante ou escolha estética louvável. Entretanto, aos poucos ele abandona o escárnio em relação ao mundo árabe e passa a abraçá-lo, de maneira certamente ingênua, mas dotada de tolerância. Para os espectadores em busca de uma sessão despretensiosa, o resultado oferece as recompensas prometidas.