Apesar de ser um documentário na acepção mais clássica desse gênero, Amy, filme dirigido por Asif Kapadia, introduz uma forma diferente de contar a história da cantora e compositora Amy Winehouse, uma das vozes mais fortes e marcantes dos últimos anos. Mesmo com diversos depoimentos das pessoas que fizeram parte da trajetória curta – porém significativa – de Winehouse, o foco de Kapadia está na própria cantora, como se ela mesma estivesse contando sua história – uma vez que a imagem de Amy é o elemento predominante nos 128 minutos de duração desta obra.
O formato curioso de Amy ainda pode ser visto na linha narrativa que Asif Kapadia adota para seu documentário. Ao invés de partir das origens de Amy Winehouse para mostrar a sua jornada como cantora e compositora, o diretor começa seu filme já a partir do momento em que Amy introduz sua carreira como cantora, no lançamento de Frank, seu primeiro disco, em 2003. Aqui, é importante mencionar, já temos os traços que fizeram de Winehouse uma das artistas mais únicas dos últimos anos. O mais principal deles: o fato de que Amy era uma cantora que tirava da sua vida o seu propósito na arte.
Neste sentido, é importante fazermos um adendo: Frank foi uma experiência que revelou todo o potencial de Amy Winehouse como artista, ao mesmo tempo em que foi mostrou para a cantora os caminhos que ela não gostaria de seguir. Amy queria que a sua música sobressaísse, ao invés de ser o seu jeito de ser que chamasse a atenção. E, talvez, esse foi o maior desafio que ela enfrentou. Da mesma forma, foi durante todo o período de divulgação e de turnê de Frank que ela acabou conhecendo a pessoa que mudou a sua vida: Blake Fielder-Civil, com quem ela viveria um romance arrebatador e que inspiraria todo o álbum que a transformou numa estrela: Back to Black.
Quando Back to Black foi lançado, em 2006, Amy Winehouse já era uma artista que chamava a atenção da mídia por causa das polêmicas envolvendo seu nome com o uso abusivo de álcool e drogas, bem como a sua magreza excessiva (resultante também de anos de distúrbios alimentares). A verdade é que Amy Winehouse foi uma celebridade clássica da era da Internet, em que a informação circula livremente na grande rede, em vídeos no YouTube, postagens no Facebook e fotografias indelicadas publicadas em sites e tabloides que fazem a cobertura da vida das estrelas.
Amy Winehouse era vigiada constantemente, ao ponto de qualquer deslize cometido por ela estar em minutos sendo conhecido a nível mundial. Em consequência disso, Winehouse foi se afundando, cada vez mais, em uma trajetória auto-destrutiva, num caminho sem volta. Para mim, Amy se perdeu por meio daquilo e das pessoas que ela mais amava. E é essa a constatação mais triste de um documentário que, em seus minutos finais, só nos deixa mais arrasados ainda por vermos que o processo de decadência física e emocional de Amy Winehouse foi algo ao qual todos assistimos sem que ninguém tivesse feito nada para ajudá-la a se levantar novamente.