O sexo está no ar
por Francisco RussoQuem tem bom ouvido pode reparar: a canção que abre Sexo, Amor e Terapia nada mais é do que a versão francesa da brasileiríssima “Nem Vem Que Não Tem”. Por mais que traga o suingue típico de Wilson Simonal, a letra é completamente diferente e, na adaptação francesa, repleta de duplo sentido – o que justifica a escolha, ainda mais por ter sido cantada pelo símbolo sexual Brigitte Bardot. A música é uma espécie de cartão de visitas sobre o propósito maior do longa-metragem: impregnar por todos os cantos referências ao sexo, seja ele citado, mostrado ou insinuado. Tudo sem ser explícito, como reza a cartilha das comédias picantes.
Tamanha obsessão “naquilo” tem um bom motivo, já que a trama acompanha o súbito encontro de dois ninfomaníacos. Entretanto, engana-se quem pensa que isto resulte em cenas e mais cenas de sexo entre o casal. Afinal de contas, se ela segue o melhor estilo devoradora voraz, ele está em recesso há quase um ano e, decidido a alcançar tal marca devido a um tratamento de autocontrole, resiste aos ataques e decotes dela. Ou seja, Sexo, Amor e Terapia nada mais é do que o confronto entre aquela que quer contra aquele que também quer, mas resiste por princípios. É a partir desta colisão de interesses que nasce a tensão sexual entre Judith (Sophie Marceau) e Lambert (Patrick Bruel), que permeia todo o longa-metragem.
É claro que, diante da situação, o roteiro cria uma série de situações embaraçosas envolvendo amigos e famílias, de forma a colocar à prova interesses de lado a lado. O fato deles trabalharem juntos, como terapeutas de casais, ainda os expôe a todo tipo de intimidade, da mais puritana à agressiva, o que também serve de estímulo. Entretanto, as provocações maiores vêm realmente das roupas de Marceau, sempre muito justas e decotadas, e das iniciativas dela em conquistá-lo. A atriz, por sinal, deve estar com o ego nas alturas: neste, e no também francês (e bem melhor) Um Reencontro, ela interpreta personagens extremamente sensuais, já à beira dos 50 anos.
No fim das contas, Sexo, Amor e Terapia é um filme de uma piada só alongada ao máximo. Funciona em alguns momentos, desanda em outros. O grande trunfo acaba sendo o casal protagonista, com Patrick Bruel menos sisudo do que o habitual e Sophie Marceau bem à vontade com as estripulias de sua personagem. Entretenimento leve e rasteiro, sem piadas vulgares, por mais que o tema dê uma boa margem ao seu uso (e isto, diante de outros filmes de temática parecida, é um ponto bastante positivo).