Baseado no curta-metragem homônimo, “Temporário 12”, foi inspirado pela experiência pessoal do diretor e roteirista Destin Daniel Cretton, quando ele trabalhou por dois anos em um abrigo infantil. Talvez, por isso mesmo, chame a atenção no decorrer dos 96 minutos de duração do filme o fato de que o relato que a obra faz é muito natural – e isso também é corroborado pelo estilo de filmar de Cretton, que coloca a câmera como se ela fosse uma testemunha da rotina do local em que se passa boa parte da ação do longa, ao invés de colocá-la como uma “intrusa” na ação propriamente dita.
O “Temporário 12” é uma residência que abriga crianças e adolescentes em risco ou que foram abandonados pelos seus pais. Os residentes daquele ambiente podem ficar no local até completarem 18 anos, o que significa que, por ali, existe uma preocupação enorme com o futuro e com a necessidade de se fazer realmente a diferença na vida daqueles que são os habitantes temporários daquele lugar. O grupo de adolescentes que habita o “Temporário 12” é extremamente heterogêneo e cada um deles tem uma questão pessoal com a qual lidar.
Por trás do “Temporário 12”, existem a figura dos supervisores, profissionais que têm, como a sua função principal, recuperar essas crianças e adolescentes, de forma a encaminharem-nos bem na vida, para que eles possam caminhar com as suas próprias pernas sem ter aquele sentimento de dor e amargura que é comum àqueles que possuem uma vida marcada pelo sofrimento e abandono. Grace (Brie Larson), Mason (John Gallagher Jr.), Jessica (Stephanie Beatriz) e Nate (Rami Malek) possuem uma grande responsabilidade em suas mãos e um trabalho muito difícil que tem influência direta em suas próprias vidas pessoais.
Neste sentido, “Temporário 12” é a história de Grace, com ênfase na forma dedicada e cuidadosa como ela cuida das crianças e dos adolescentes que estão sob a sua proteção. Curioso perceber que o mesmo esmero que ela dedica à sua vida profissional não é visto em sua vida pessoal – apesar de ela manter um relacionamento bem-sucedido com seu colega de trabalho Mason. Grace tem tanta empatia com seus meninos e meninas por uma simples razão: ela também é produto de um lar abusivo e foi uma criança abandonada como eles.
Entretanto, o lado interessante por trás de “Temporário 12” é acompanhar a jornada de Grace na forma como ela é desenhada por Destin Daniel Cretton. Grace é o protótipo perfeito para entendermos, por exemplo, o mundo de provas e expiações em que vivemos. Por meio do relacionamento que se desenvolve entre Grace e a jovem Jayden (Kaitlyn Dever), com quem ela se identifica tanto, vemos ser aberta uma porta de entrada para que Grace comece a encarar o seu passado, de forma a se permitir viver um futuro mais leve, em que ela se deixe ser amada e se deixe amar de uma forma mais plena.
Desta maneira, o elemento mais importante de “Temporário 12”, além do roteiro maravilhoso de Destin Daniel Cretton e da forma crua típica do cinema independente norte-americano com a qual ele retrata a sua história, acaba sendo a magnífica atuação de Brie Larson, no primeiro grande papel de sua carreira, reconhecida com a indicação ao Broadcast Film Critics Association Awards 2014 de Melhor Atriz. Larson consegue mostrar de uma forma minimalista e totalmente sincera todos os conflitos existentes em sua personagem. Sua Grace tem aquele olhar que revela a angústia do seu ser mais íntimo, e, ao mesmo tempo, tem o sorriso ingênuo que só aqueles que têm uma esperança muito grande dentro de si possuem.