É difícil alguém não ter ouvido falar no Seaworld. Uma das atrações turísticas mais conhecidas dos Estados Unidos, é um parque aquático famoso pelos shows que promove com animais como as orcas (popularmente conhecidas como “baleias assassinas”) e os golfinhos, os quais interagem diretamente com seus treinadores. Nem sempre essa interação termina bem e o documentário “Blackfish: Fúria Animal”, dirigido e co-escrito por Gabriela Cowperthwaite, faz um cruel retrato da vida desses animais em cativeiro e mostra isso como causa preponderante para que as baleias, especialmente, joguem suas frustrações em cima dos seus treinadores.
O caso principal que motivou a realização de “Blackfish: Fúria Animal” foi a morte de Dawn Brancheau, treinadora experiente do SeaWorld, durante um dos shows promovidos pelo parque. A treinadora foi vítima de um ataque de agressividade da orca de sexo masculino Tilikum. O roteiro do documentário é centrado em Tilikum, mais precisamente na tentativa de responder à seguinte pergunta: como uma orca com um histórico de agressividade como Tilikum (além de Dawn, o animal vitimou uma treinadora do parque Sealand of the Pacific, no Canadá, em 1991; e um turista desavisado que caiu, acidentalmente, no tanque em que Tilikum “vivia”, em 1999) continuava a manter contato com seres humanos?
As respostas para essas perguntas encontram-se na série de depoimentos vistos em “Blackfish: Fúria Animal”. Ex-treinadores do SeaWorld e do Sealand of the Pacific, profissionais da Administração de Saúde e de Segurança Ocupacional do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, especialistas nos comportamentos de orcas, caçadores de orcas e espectadores dos shows promovidos pelos parques aquáticos oferecem os pontos de vista da atividade multimilionária por trás dos parques aquáticos e, principalmente, a maneira como a dureza que lhes são impostas pelo cativeiro acabam influenciando o comportamento de animais que foram feitos para viver uma existência selvagem, porém são tratados como mercadoria, em condições totalmente inumanas.
Por essas e outras, “Blackfish: Fúria Animal” é um filme muito difícil de ser assistido. Com imagens fortes, chama a atenção, no documentário, especialmente o arrependimento por trás de gente como o caçador de orcas que ajudou a colocar esses animais na vida em cativeiro e por trás dos treinadores que, livres de uma lavagem cerebral impostas pelo negócio que serviam, fazem uma análise extremamente crítica e reflexiva da realidade que, um dia, eles conheceram. Ao mesmo tempo, também revolta o silêncio do SeaWorld diante de tantas evidências incontestáveis. Esta é uma obra que nos incita a fazer uma reflexão sobre a maneira como utilizamos a natureza para o nosso bem (e interesses) comuns e que modificou a forma como esses parques trabalhavam (hoje em dia, os treinadores são proibidos judicialmente de interagir com os animais durante os shows). Porém, “Blackfish: Fúria Animal” ainda não cumpriu o seu papel de conscientizar as autoridades de que animais como Tilikum não devem continuar trabalhando. O lugar deles é no vasto oceano, livres para exercerem as suas funções de predadores.