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    O Ano Mais Violento
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    O Ano Mais Violento

    Um elegante soft gângster

    por Renato Hermsdorff

    Dirigido por J. C. Chandor (Até o Fim), O Ano Mais Violento se passa em 1981, período em que Nova York registrou, comprovadamente, um dos mais altos índices de criminalidade. O imigrante Abel Morales (Oscar Isaac) realizou o sonho americano. À sua maneira. Dono de uma empresa do ramo de combustíveis, que herdou do sogro, ele tem como objetivo, agora, comprar uma área para armazenamento do material, à beira do rio, o que lhe facilitaria a logística de recebimento da carga, além de poder estocar uma quantidade maior do produto, aumentando seu poder de barganha.

    Contra ele pesam uma misteriosa onda de assaltos aos caminhões da empresa e uma séria investigação de seus negócios por parte da promotoria (encabeçada por David Oyelowo).

    O filme é centrado na figura de Abel, o empresáriode de moral sólida que, no entanto, dança conforme a valsa burocrática do fim da década de 1970/ início de 1980. Ele trata bem os funcionários – condensados na figura do latino Julian (Elyes Gabel) – e não permite que eles andem armados, mesmo com a explosão da violência. Em comparação com os concorrentes nativos, é uma espécie de Robin Hood às avessas – o latino que rouba dos americanos o ideal de prosperidade de forma honesta e compartilha sua experiência de bom caráter com quem está sob sua tutela. Mas sem sentimentalismos – ele beira a frieza. É, portanto, um personagem humano, que gera empatia imediata com o público.

    Menos, digamos, paciente é a esposa dele, Anna (Jessica Chastain). A atriz tem um papel importante na trama e só não rouba as cenas em que aparece porque Isaac incorpora com perfeição o tipo soft gângster – embora o personagem se recuse a ser referido como tal. Mesmo assim, se comparado com o tempo de tela do ator, o personagem feminino aparece relativamente pouco e fica a impressão de que Anna está o tempo todo à beira de mostrar a sua real força, sempre na iminência de “acontecer” (o que faz lembrar a reclamação cada vez mais presente entre as atrizes de que faltam bons papéis para mulheres em Hollywood – ou, pelo menos, personagens tão importantes quanto os masculinos). Não atrapalha a experiência, no entanto.

    A produção ganha, sobretudo, na construção do clima. Um filme de época, de tom sépia, elegante e direto, com conflitos claros. Paradoxalmente, A Most Violent Year, no original, caminha para uma resolução sem grandes surpresas, fruto do roteiro redondo que, porém, se arrasta no ritmo, até que... uma manobra no encerramento, que até então parecia previsível, faz o longa recuperar a força inicial. Não uma força arrebatadora, que se vai no dia seguinte. Mas um incômodo de uma coceira, que te faz sair da sala ruminando sobre a complexidade das relações (políticas) humanas.

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