Nem mesmo a poesia das canções de Renato Russo, escondem a
falta de profundidade (e não sensibilidade) da obra de Cafure"
O diretor comentou que pensou em produzir uma obra que se adaptasse ao meio da web, sendo a ferramenta principal de divulgação do longa. Ele até divulgou que a técnica e a narrativa moldaram-se a plataforma em que milhões de pessoas acessam todos os dias, comentando e divulgando aos amigos, levando um produto a ser conhecido. O que Fabiano Cafure (direção e roteiro, e outras atividades) pretendeu fazer do primeiro longa brasileiro realizado exclusivamente para a web, acabou tornando-o um filme vazio e sem emoção.
Vazias e sem emoção são duas coisas que as canções do cantor Renato Russo não são. O filme é uma aberta homenagem ao líder da banda Legião Urbana, começando pelo título, e o longa exagera (no bom e delicioso sentido) na trilha sonora que embalou toda uma juventude e também toda uma cultura da música brasileira nos anos 80 e 90.
Nessa última década, precisamente em 1996, o filme conta a história de três amigos residentes numa cidade do interior do Rio. Beto apresenta sua namorada Adriana para André, amigo de infância dele. Os três combinam de viajar para uma casa do interior e comemorar o aniversário de um deles. Neste fim-de-semana, na troca de olhares e carícias um clima diferente começa a surgir, e eles, munidos de desejo e prazer, tem relações amorosas entre si. Repetem a experiência diversas vezes, até quando o irmão de André desconfia da amizade dele com Beto, e quando este começa a dar sinais que está apaixonado pelo seu amigo. O clássico triângulo-amoroso. Adriana é posta de lado, enquanto que os dois amigos vivem um romance proibido. Claro, existe ainda uma mínima observação sobre a mudança de sentimento entre os dois amigos homens de infância, o chamado "descobrimento da sexualidade tardia"; sendo isso que o filme dá a entender. O que não torna, de forma alguma, interessante a quem assiste, pois os personagens não são estudados na narrativa, o que os tornam superficiais e, novamente, vazios. Os três. André se nega a aceitar a condição de estar apaixonado por Beto, seu grande amigo e amante, e decidi terminar com ele. A sequência final, fazendo um paralelo temporal do dia em que Renato Russo morre, é menos impactante do que qualquer outra que se encontra atualmente no mercado cinematográfico brasileiro. Falta perspectiva dramática.
Visivelmente, a canção título de Eu Te Amo Renato é "Quase Sem Querer", onde Renato fala da geração da sedução, dos desejos, das mudanças inerentes aos jovens, assíduos por novas experiências e sempre querendo "ser e ter" personalidade onde vive e se relaciona com os outros. A geração da liberdade, tema de outra canção-hino da banda, a "Geração Coca-Cola".
Filme independente, motivado pelo prazer de produzir material audiovisual em um país onde não se recebe financiamento e auxílio das empresas e do governo, Eu Te Amo Renato tem um trio principal interessante de se ver em cena (os voluntários Ingrid Conte, Felippe Bondarovsky e Vinícius Moulin Allemand), pelo próprio calibre dos rostos virgens na atuação; mas não passa de um divertimento bobo onde se observa um grande esforço de fazer toda a coisa o melhor possível (ou o mais natural), mas que acaba caindo na premissa já óbvia do cinema brasileiro: a falta de tempero. Sempre isso...
No ano de homenagens (lembrando: Somos Tão Jovens e Faroeste Caboclo, ambos deste ano) a uma das maiores bandas do rock brasileiro, o diretor Fabiano Cafure abordou um tema muito interessante e bastante utilizado no cinema (Os Sonhadores, de 2003 e Os Três, de 2011), mas que deve sempre ter uma intensa e proporcional narrativa a fim de sustentar toda a gama de significados que ela compreende ou quer passar ao espectador. Novamente, no Brasil, o problema está no roteiro, que dá base para os atores desenvolverem bem as complicações do enredo. Aqui, os três jovens são esforçados, como já citei, mas falta inspiração. É magia, a força que vem de dentro para fora. Eu Te Amo Renato tem boa música, linda fotografia e boa vontade de produzir arte; mas peca na edição, que em parte dá sentido a história, e falta um dos ingredientes primordiais de se fazer cinema: não ter medo de arriscar, em tudo, e não só naquilo que está na tela. Uma boa tentativa que poderia ter se saído bem melhor.