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    Eu Te Amo Renato
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Eu Te Amo Renato

    Ménage à trois na fazenda

    por Bruno Carmelo

    Na mesma época em que Somos Tão Jovens e Faroeste Caboclo estão em cartaz, tendo levado mais de três milhões de brasileiros aos cinemas, um novo filme explora a música e o universo do cantor Renato Russo: Eu Te Amo Renato. Trata-se da menor produção entre as três, feita com pouquíssimos recursos e concebida diretamente para exibição na Internet. Atualmente, o filme está programado no Rio Festival Gay de Cinema 2013.

    Enquanto as duas grandes produções citadas acima foram acusadas de serem comerciais demais, formatadas para os gostos do grande público, este pequeno filme independente, que não deve nada a nenhum grande investidor, e que não precisa se preocupar com classificação etária, pode ser muito mais ousado, certo? Não exatamente. Embora fale sobre descobertas sexuais, amadurecimento e morte, o filme parece temer o choque, e conforta seu público com imagens um tanto convencionais.

    A primeira metade do filme funciona como uma longa preliminar ao inevitável ménage à trois entre os protagonistas - dois garotos e uma garota. Sabe-se desde as primeiras cenas que eles têm atração uns pelos outros, e a câmera acompanha, sem a menor sutileza, cada olhar de desejo, cada mão encostando por acaso em um mamilo, cada braço roçando no outro. Quando finalmente a cena de sexo acontece, o filme perde sua vocação softcore para entrar na descoberta da (bi)sexualidade dos personagens.

    No entanto, embora o trio esteja sozinho e nada se oponha à realização dos desejos - os amigos e a família estão distantes, os três estão em sítios belíssimos e isolados - a história não oferece nada além de uma sucessão de cenas de alegria coletiva, com os três belos jovens posando ora na entrada da casa (se beijando e sorrindo), ora sobre a grama (se beijando e sorrindo), ora dentro da piscina (se beijando e sorrindo), ora declamando letras de Renato Russo (se beijando e sorrindo).

    Eu Te Amo Renato é sem dúvida o filme com maior quantidade de cenas de beijo no cinema. Tudo se resolve no beijo: Viu o namorado transando sozinho com o amigo? Nada de ciúme, beije os dois. Uma garçonete vê seu grande amor beijando outro? Ela corre e beija um terceiro. Acabou de fazer uma declaração de amor heroica e vergonhosa em público? Pegue a primeira pessoa que passar pela frente - não aquela para quem você se declarou - e beije-a. Lábios e línguas canalizam todos os desejos, frustrações e tristezas nessa história.

    O diretor poderia pelo menos ter explorado de maneira ousada a intimidade entre os três, que passam metade do filme fazendo sexo. Shortbus e Nove Canções já trataram com bastante naturalidade a relação entre juventude, sexo e rock'n'roll, mas Fabiano Cafure prefere as ferramentas mais simples, típicas de telenovelas: quando seus personagens começam a se beijar e se despir, a câmera desliza para a parede, e a imagem corta para os pombinhos abraçados, na manhã do dia seguinte. Para um filme que pensa tanto em sexo, e tem tantas cenas grupais, evitar nudez e imagens do ato em si representa uma opção surpreendentemente conservadora.

    Como na grande maioria dos filmes sobre relações amorosas a três, o elemento que destrói a harmonia do grupo não é tanto o ciúme, e sim o olhar externo. É com a descoberta local do amor poligâmico que surgem os problemas, e Eu Te Amo Renato envereda sem medo pelo melodrama, incluindo humilhações, brigas, cartas de amor secretas e duas mortes no mesmo dia, no mesmo momento. A trama acaba recorrendo a outra saída fácil: para solucionar os conflitos entre os três, simplesmente elimina-se, de maneira artificial e arbitrária, um dos elementos em jogo.

    Por fim, Eu Te Amo Renato fracassa pelo abismo que separa sua aparência cool, libertária e libertina, e sua realização quadrada, pudica e cheia de fórmulas. Os atores são razoavelmente competentes em seus papéis, e a produção, apesar de pequena, sabe usar da melhor maneira os seus recursos. Cafure também consegue tirar proveito da leveza de sua câmera digital, aproveitando para captar alguns momentos de naturalidade entre os atores. Mas infelizmente uma oportunidade tão boa para se retratar algo ousado, digno das letras de Renato Russo, se transformou em uma tímida homenagem adolescente e envergonhada ao universo do cantor.

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