É preciso reconhecer que depois de oito filmes em 16 anos a franquia Velozes e Furiosos alcança um patamar que merece algum respeito – mesmo com uma qualidade mínima entre seus longas. Enchendo os cinemas através desta última década, era visível, lá pelo quinto e sexto filme, que a formula estava ficando gasta – as cenas de ação cada vez mais exageradas não compensavam as tramas que tentavam se levar a sério – com “reviravoltas” dignas de novela mexicana, soando ridículas várias vezes. Saindo do campo dos “rachas” para o estilo de filmes de espionagem (do tipo da era Pierce Brosnan dos filmes de James Bond), a qualidade artística subiu para um nível no mínimo aceitável no capitulo anterior – mesmo que a trágica morte de Paul Walker tenha (de alguma forma) ajudado a familiarizar e emocionar o público, que bateu recorde de bilheteria indo ver o sétimo capitulo nos cinemas – inclusive, Walker será ligeiramente homenageado de novo no final deste capitulo mais recente da saga do heróis que parecem estar cada vez mais furiosos do que velozes, já que trocaram as corridas por tiros e explosões – mesmo assim, com os carrões por perto sempre.
Sem o diretor Justin Wan desta vez, a produção desta oitava parte conta com a direção do experiente F. Gary Gray (de Straight Outta Compton), um cineasta hábil em inserir humor e conduzir a ação (mil anos a frente dos enquadramentos confusos de Zack Snyder e Michael Bay), driblando uma trama convencional de espionagem que este novo filme mostra – mas, mesmo sendo comum em seus absurdos, é notório que os roteiristas tentam surpreender ou deixar o começo mais inusitado – desta vez, Dominic Toretto (Diesel) é forçado pela misteriosa criminosa Cipher (Theron) a trair sua família, abandonando seus parceiros armados e velozes para se juntar à um time de terroristas que pretende roubar um perigoso dispositivo capaz de controlar armas nucleares das superpotências. O agente Hobbs (Johnson), indignado com a suposta traição de Toretto, reúne o time todo para tentar captura-lo – contando com o apoio do agente Sr. Ninguém (Russell) e do antigo inimigo (mas agora aliado) Deckard Shaw (Statham) – e de Letty (Rodriguez), disposta a entender o porque de Don ter se aliado à criminosos.
Com uma trama que atravessa o mundo (como os filmes de 007 costumam fazer), passando por Havana, Nova York, França e a gelada Sibéria, Gray garante fluência à história absurda – sabendo conduzir o humor em momentos adequados e deixando um certo drama como elemento de suspense, especialmente na relação entre a Cipher de Charlize Theron e Toretto; embora, o tal motivo de Don ter virado a casaca seja algo que reflita de um furo/chavão absurdo de um dos filmes anteriores – mas o cineasta mostra como é inteligente: isso nem importa mais! É uma série sobre pessoas dispostas a explodir tudo a sua volta e a saírem ilesos, gozando de toda a situação – nesse ponto, o Roman de Tyrese Gibson se apresenta melhor, fazendo rir com sua piada sobre o frio – embora Ludacris parece levemente mais tímido do que nos filmes anteriores com seu Tej; mas o destaque humorístico fica por conta da rivalidade entre o Hobbs de Dwayne “The Rock” Johnson e o Deckard de Jason Statham – a piada que Jason faz sobre as roupas apertadas de Hobbs é hilária – refletindo a brincadeira fora do filme sobre os músculos exagerados de Johnson, que tem um timing interessante para fazer piadas, assim como Statham, que consegue se sobressair a sua habitual inexpressividade com um humor eficiente, em especial, por seu inglês britânico, principalmente quando um certo familiar deste entra em cena. Entre o humor ainda, é bom destacar a participação de Kurt Russell como o Sr. Ninguém, que, embora apareça menos do que no filme anterior, tem seus momentos divertidos dando as instruções ao time/família de heróis, especialmente quando o inexperiente agente “Sr. Ninguenzinho” de Scott Eastwood entra em cena. E se Vin Diesel mostra-se apático como sempre como Toretto – acho que está na hora de umas aulinhas de atuação, depois de tantos anos, hein? ao menos melhor do que a chatice de sua interpretação como Xander Cage – e Michelle Rodriguez parece estar cansada de interpretar Letty, que é tratada com pouco foco por boa parte da produção, temos o destaque da composição de Charlize Theron para sua Cipher – a atriz de Mad Max abraça a ideia do diretor de não se levar à sério, transformando sua vilania em um tipo de ironia, ao expor olhares de desprezo que parecem até ser um tipo de auto gozação com o próprio roteiro – algo semelhante com que Michael Sheen fez em Amanhecer – Parte 2, por exemplo.
Mas vamos ao que interessa nessa franquia: a ação. Conseguindo resultados com o uso de trucagens reais, ao invés de abusar do CGI – usado com moderação, ao menos – a condução da pirotecnia é realmente ótima, com dublês que provavelmente arriscaram a vida em algumas coisas, embora tenha momentos menos grandiosos do que no filme anterior – desta vez não há veículos saltando entre prédios, mas há “chuva de carros” nas ruas de Nova York, provocada quando Cipher controla por controle remoto os carros da cidade, a nitro cada vez mais forte nos carros, perseguições sobre o gelo (uma pena que o trailer entregou a parte onde The Rock desvia com as mãos a trajetória de um torpedo), submarinos surgindo por baixo de carros – e mulheres com pouca roupa aqui e ali (recurso gratuito e machista para atrair um público especifico para o filme, algo presente em toda a série), em especial, no inicio em Havana, onde Don trava um racha nas ruas da cidade com carros antigos, típicos de Cuba – cena que tem um significado por querer mostrar o antigo espirito da franquia, mas também serve como gancho para um acontecimento perto do final da trama – que tem lá sua inventividade, sendo coerente em seus absurdos.
Velozes e Furiosos 8 é simplesmente um filme de ação sem cérebro, mas que não faz mal a saúde de ninguém, conseguindo fazer divertir em suas pouco mais de duas horas de projeção, que passam rápido até – tão rápido quanto o esquecimento que alguns terão após os créditos finais – acredito que a série possa continuar com esta formula, mas que não seja por tanto tempo, afim de evitar cair numa mediocridade na qual estava em capítulos passados.