Nivelando por baixo
por Bruno CarmeloDizer que Super Velozes, Mega Furiosos é um filme ruim não deve surpreender ninguém, afinal, ele não foi feito para ser uma grande obra de cinema. A intenção, modesta e oportunista, é surfar no gigantesco sucesso da franquia Velozes & Furiosos (cujo episódio mais recente já é o quinto maior sucesso de todos os tempos) e conquistar uma bilheteria razoável com espectadores sedentos por qualquer coisa relacionada à série, e talvez com uma parte desavisada do público que confunda a paródia com um spin-off oficial ou algo do tipo.
O problema inicial é que Velozes & Furiosos já assumiu há anos o seu caráter exagerado, no limite do cômico, com explosões gigantescas, manobras impossíveis ao volante e frases de efeito nada realistas. Parodiar algo que já é, na essência, uma paródia não é uma ideia muito esperta. Nos Estados Unidos, a comédia foi lançada diretamente em DVD – nicho perfeito para absorver este tipo de produção. O mesmo ocorreu com outros grandes mercados, como a França e o Reino Unido. No Brasil, por algum mistério da indústria cinematográfica, o filme vai ocupar as telas do cinema.
A trama desta comédia empresta várias ideias da franquia original, como poderia se esperar. Se não conseguem fazer algo maior – até pelo orçamento limitado – os diretores fazem algo assumidamente ridículo: assim, um grande carro de corrida tem estampa de arco-íris e unicórnios, o motorista do possante veículo não sabe dirigir, o careca valentão (Dale Pavinski) decide raspar o cabelo enquanto dirige. O cofre de Velozes & Furiosos 5 – Operação Rio transforma-se em uma lanchonete de comida mexicana. São situações patéticas, porque não satirizam o mundo das corridas, preferindo trazer elementos externos que nada têm a ver com aquele universo. A ironia é simétrica e evidente: o valentão tem um carro com desenhos infantis, a mulher sedutora (Andrea Navedo) manifesta desejos lésbicos, o homem covarde (Alex Ashbaugh) conquista a mulher mais bela.
Como se isso não fosse óbvio o bastante, os nomes dos personagens fazem referência aos atores da franquia original, como Vin (Diesel), Paul (Walker), Jordana (Brewster), Michelle (Rodriguez)... Esse é o maior problema de Super Velozes, Mega Furiosos: tratar seu público como alguém de inteligência muito reduzida. Toda piada é repetida dezenas de vezes, sublinhada pela trilha e pelo roteiro, pelas atuações exageradas e pela montagem. Caso alguém ainda não tenha percebido que Michelle prefere as mulheres, ela aparece em todas as cenas admirando o corpo de alguma beldade; caso alguém não tenha notado que o detetive Rock (Dio Johnson) é um narcisista, ele é visto em todas as cenas venerando seu próprio corpo.
Em alguns momentos, o roteiro ameaça abandonar a simples imitação e se aventurar pelas críticas e subversões – algo que costuma ser a base das boas paródias, como o excelente Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu!, por exemplo. O elenco forçadamente multiétnico da franquia original é o alvo central da possível crítica. Entretanto, pensando que o espectador não será capaz de entender a piada, o roteiro repete a ironia muitas, muitas vezes. O “asiático descolado”, a “modelo tentando carreira de atriz”, o “rapper fazendo uma ponta” aparecem na imagem, nas repetições em câmera lenta, nos letreiros, nos diálogos, até a piada perder completamente a graça. Não adianta criar esperanças: o filme busca seduzir um espectador com dificuldades cognitivas muito graves.
O melhor momento do filme, ironicamente, vem após os créditos. Os erros de gravação mostram um elenco comprometido, experimentando alguns improvisos que poderiam ter funcionado na história – especialmente os de Omar Chaparro. Estas são as únicas boas risadas, mostrando que pelo menos a equipe se divertiu fazendo o filme. “Esses filmes de paródia nunca ganham o Oscar”, lembra Chaparro durante uma cena cortada pelos editores. Se essa autocrítica e honestidade tivessem integrado Super Velozes, Mega Furiosos, talvez a comédia pudesse ser um pouco melhor.