Esqueça o título ridículo em português. The Dressmaker, no original, é vendido como uma comédia, e não deixa de ser uma, mas definitivamente não é um filme comum. É engraçado em várias passagens (difícil ver uma comédia que me faça rir, e esse conseguiu essa façanha várias vezes), contudo o filme está longe de ser hilário. O drama na verdade se faz bem presente, assim como esse humor um tanto desvirtuado. É um filme que não apela para escatologia ou piadas infames para fazer rir a todo custo, muito pelo contrário. Há algo de bastante elegante no filme, e não só me refiro ao belo figurino. Não espere um Diabo Veste Prada no interior da Austrália. O filme narra a história de Tilly (Kate Winslet), que volta a sua cidade natal depois de 25 anos, após ser acusada de matar um menino que a atazanava quando ainda era criança, e nesse retorno tenta enfrentar toda a cidade que a julga como uma assassina, mas que se encanta por seus vestidos de alta costura. Simplificar o filme dessa forma é complicado, mas dar muitos detalhes sobre a história seria desprezível da minha parte. O elenco é extraordinário, para começo de conversa. Kate Winslet está incrivelmente bem, como sempre. Além de bela e estonteante, ela consegue dar uma profundidade impressionante a sua personagem. Judy Davis, como a mãe de Tilly, está extraordinária. Rouba todas as suas cenas com essa personagem extremamente peculiar e as melhores piadas do filme provém dela. Liam Hemsworth está muito bem, num papel de destaque e que tenta se desvencilhar dos papeis bobinhos que tem feito, embora pareça jovem demais para o personagem que interpreta. Hugo Weaving talvez seja dos atores principais o mais deslocado por ter que desenvolver o personagem mais caricato e estereotipado do filme. Mas convenhamos, apesar de ter uma história bem interessante e que cativa, o filme dá várias escorregadas no meio do caminho. Em sua reta final, vários acontecimentos trágicos fazem com que o filme perca quase que por completa aquela sensação de estarmos vemos uma bela comédia. A mão pesada no roteiro, que até então vinha contando uma história inusitada de vingança, acaba resvalando em cenas dignas de dramalhão mexicano, e essa irregularidade causa certo desconforto. O filme também consegue a proeza de ser muitas vezes previsível por um lado, mas completamente inesperado em outro. E também o que me incomoda são os estereótipos. Os personagens secundários, habitantes da cidade, são exageradamente caricatos e muitos deles extremamente irritantes. E a revelação do “mistério” envolvendo a morte do menino cuja culpabilidade da morte recaiu sobre a protagonista é deveras óbvia e rasa. Difícil acreditar em algo tão banal e esdrúxulo como tais motivações da morte do jovem. Mas tirando esses ‘poréns’, o filme traz muitos bons momentos e a sensação majoritária é de bem estar. Trata-se de um filme atípico, mas que só pela presença de Winslet e Davis já vale a pena a conferida.