Muito pano pra pouca manga
por Renato HermsdorffPoucos trailers vendem tão bem um filme quanto este de A Vingança Está na Moda (para o bem e para o mal). A peça, de 2min19s, começa animada, vira um dramalhão em 1min21s, e embaralha os gêneros na resolução. De moda, a produção vai bem, obrigado. O problema é a tal “vingança”, inserida em um enredo confuso que procura dar substância à pouco convincente trama de redenção da protagonista vivida por Kate Winslet.
No filme de Jocelyn Moorhouse (de Colcha de Retalhos, que não filmava desde Terras Perdidas, de 1997), ela é Myrtle 'Tilly' Dunnage, a mulher que saiu do povoado tacanho onde nasceu para estudar haute couture. Anos depois, o patinho feio retorna, em versão linda e loira, tal qual uma Tieta do Agreste australiano.
Acontece que o roteiro, escrito pela cineasta em parceria com P.J. Hogan, não deixa claro o real motivo do retorno de 'Tilly': se para transformar a vida daquela gente com o seu talento, ou acertar as contas com um passado que a condena – a protagonista é acusada da morte de um menino. Tudo bem que o filme é baseado em uma história pré-existente, o romance escrito por Rosalie Ham, mas a mudança de tom adotada na adaptação é brusca e inverossímil, descambando para um final tão catártico quanto caótico.
O fato é que The Dressmaker (no original, algo como “a fazedora de vestidos”) é de um verdadeiro deleite visual, sobretudo ao desfilar a alta costura num cenário árido de faroeste. Contribui o tom de fábula, adotado inicialmente. Caricata na medida, Winslet diverte ao chacoalhar os hábitos da cidade com o que aprendeu fora, e logo logo vira estilista requisitada das damas do povoado (e até de um cavalheiro, o excêntrico sargento Farrat, engraçado, no registro de Hugo Weaving).
O resultado é exagerado e deliciosamente colorido (ponto para a fotografia de Donald McAlpine), com os figurinos exuberantes de Marion Boyce e Margot Wilson (é até lugar comum mencionar) como um dos grandes atrativo do filme. O vestuário é o pano (com o perdão do trocadilho) de fundo que permite Tilly se destacar e, de quebra, mostrar que o estilo de se vestir pode, sim, empoderar as mulheres (“observe e aprenda”, ela doutrina). O exibicionismo da personagem é de gargalhar.
De quebra, ela ainda tem a figura de Teddy McSwiney (Liam Hemsworth), bem mais jovem, aliás, como interesse amoroso. E o excesso é complementado pela adorável megera interpretada por Judy Davis, que dá vida à mãe da personagem principal. Com um humor ora negro, ora nonsense, a velhinha cambaleia entre a ranhetice e a perversão sexual.
Carnaval armado, o surpreendente drama que acompanha a trama de vingança faz o filme tropeçar no salto. E a bagunça de estilos deixa a impressão de que A Vingança Está na Moda usa muito pano para pouca manga.
Filme visto no 40º Festival Internacional de Cinema de Toronto, em setembro de 2015.