Feijão com arroz
por Francisco RussoJon Favreau sempre foi um ator do terceiro escalão de Hollywood, que volta e meia se arriscava na direção. Sua carreira mudou definitivamente quando rodou Homem de Ferro, primeiro filme produzido pela Marvel e que alçou Robert Downey Jr. ao posto de astro. Desde então vieram Homem de Ferro 2, o fiasco Cowboys & Aliens e, agora, a aposta Chef: um filme onde Favreau utiliza o crédito conquistado como diretor para alavancar também seu lado ator. Tudo com uma forcinha dos amigos, é claro.
A história acompanha Carl Casper (Favreau), um chef com um certo renome que enfrenta dificuldades no restaurante em que trabalha. O problema é que ele deseja criar enquanto o dono quer que ele faça o feijão com arroz tradicional, ou seja, que não altere o cardápio que tem dado certo junto ao público. Entretanto, tudo vai por água abaixo quando um crítico gastronômico (Oliver Platt) vai ao restaurante e detesta a comida. Revoltado, Casper parte para o confronto e perde o emprego. Nada mais lhe resta a não ser recomeçar, tendo ainda que enfrentar a péssima fama que o ocorrido lhe trouxe.
A bem da verdade, Chef tem uma história pra lá de batida. O conflito entre arte e comercial é apresentado de forma maniqueísta, um contra o outro, sem jamais buscar um meio termo que agrade a ambos os lados – por motivos óbvios, já que caso isto acontecesse a história simplesmente encerrava ali. A imagem do artista incompreendido – segundo a visão do diretor - é ressaltada pela quantidade de tatuagens que carrega no corpo - com direito a uma dedicada à faca de cozinheiro! Há ainda a aproximação entre pai e filho, provocada pelo tempo livre inesperado e por um bom empurrão da mãe do garoto (Sofia Vergara, em mais um personagem estereotipado). Para completar, uma boa dose de inocência na internet foi polvilhada na trama, de forma que Casper meta os pés pelas mãos através do Twitter – não por má vontade, mas por desconhecimento mesmo. Afinal de contas, ele é um cara de bom coração e apaixonado pelo que faz, que apenas deseja ter liberdade para criar.
Com uma trama que mais lembra um conto de fadas, sem o menor compromisso com coerência, o pulo do gato é a descoberta de que a latinidade resolve todos os problemas existentes – desde os financeiros até os amorosos! A partir de então tudo é festa, com direito a frutas e verduras exóticas – para eles -, música para dançar e sanduíches deliciosos. Ou seja, mais uma dose maciça de estereótipos sobre a cultura latina nos Estados Unidos, em meio a um tour gastronômico sobre a culinária do interior do país. Este, por sinal, é um dos poucos atrativos do filme, pela oportunidade de conhecer pratos típicos de Nova Orleans e do Texas.
Apesar dos vários clichês e furos de roteiro, Chef não chega a ser um filme ruim. É leve e despretensioso, mas também uma bobagem que se esquece pouco após o término da sessão. E um alerta aos que se animaram com as presenças de Scarlett Johansson e Robert Downey Jr., amigos do diretor desde Homem de Ferro 2. Ambos surgem em personagens caricatos e breves: ela explorando a conhecida sensualidade, ele o ar esnobe a la Tony Stark. São meros ganchos para atrair o espectador incauto, já que seus personagens poderiam facilmente ser descartados do longa-metragem. A estrela de Chef é mesmo Jon Favreau, tanto diante quanto atrás das câmeras. Com todos os ônus e bônus que isto traz.