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    Destino Especial
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Destino Especial

    Quem é esse garoto?

    por Francisco Russo

    A cada novo trabalho, Jeff Nichols tem se afirmado como um dos diretores mais interessantes da nova geração, graças à habilidade em desenvolver narrativas. Assim foi com O Abrigo e com Amor Bandido, filmes que apostavam muito mais na densidade da história do que em estripulias visuais de qualquer tipo. Em Midnight Special, o diretor tem sua primeira experiência na seara da ficção científica e entrega, uma vez mais, um filme sóbrio que reverencia elementos clássicos do gênero.

    Flertando com os quadrinhos, Nichols constrói um universo factível onde vive um garoto de apenas oito anos, dotado de poderes especiais. Ele consegue ouvir (e repetir) ondas de rádio, mesmo aquelas transmitidas sob codificação. De seus olhos saem possantes raios azuis, que fascinam quem os vê. Tais poderes (e outros tantos) são paulatinamente apresentados ao espectador, que de início sabe apenas que ele é um garoto especial que está em fuga. Nada além disto.

    O maior mérito do diretor neste novo trabalho é justamente apresentar seus personagens principais de forma minuciosa, mas sem ser didática, e muitas vezes trazendo respostas visuais a partir de uma direção de arte e fotografia absolutamente sóbrias e sem estardalhaço. Por exemplo, é na tranquilidade do pequeno Alton (Jaeden Lieberher, bem em cena) ao lado dos personagens interpretados por Michael Shannon e Joel Edgerton que sabe-se de antemão que o garoto está lá por vontade própria, já que não há qualquer resistência. É através destes detalhes, sejam de postura ou coletados em diálogos calculados, que a narrativa é construída de forma a valorizar e impulsionar o mistério existente em torno deste garoto.

    Para tanto, Nichols se vale de elementos bem explorados em clássicos do gênero, como Contatos Imediatos do Terceiro Grau, onde a estranheza e o fascínio pelo desconhecido se misturam. Junta-se a isto que o diretor jamais se rende aos efeitos especiais grandiosos, que quando surgem estão sempre servindo à história - e há alguns momentos em que a trama até permitiria certos exageros visuais. A coesão estrutural em busca de manter o foco maior na própria história é um grande acerto do longa-metragem, apontando mais uma vez qual é o real interesse de seu diretor.

    Por outro lado, Midnight Special acaba caindo em sua própria armadilha ao não entregar um desfecho tão imponente quanto a expectativa por ele gerada, o que provoca uma certa frustração. Ainda assim, é fascinante a criação deste mundo tão cheio de perguntas cujas respostas estão ao nosso redor, seja pelo fanatismo religioso em busca de um salvador ou na própria busca por explicações que justifiquem o inesperado. Nisto, Jeff Nichols acerta em cheio e mostra, mais uma vez, o quão bom contador de histórias é.

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