Papo Careta
Tim Maia (Brasil, 2014) é um filme careta para uma figura loucaça. Dentro deste contexto, por mais que tente no início misturar presente e passado, o longa-metragem de Mauro Lima logo adere a linearidade e abandona precocemente sua única tentativa de ser ousado, daí o produto final consistir na típica trajetória errante de sexo, drogas e, nesse caso, soul music vista em tantas cinebiografias de ícones da música.
Em meio a escolhas discutíveis, como a utilização de dois adultos para interpretar o protagonista, bem como a dublagem das cenas musicais – o que, por óbvio, dificulta a total imersão na narrativa ao passo em que o público acaba lembrado de que está vendo um filme – e um elenco irregular que inclui uma interpretação por demais estereotipada de Roberto Carlos, uma agradável aparição surpresa de Mallu Magalhães, participações no piloto automático de Cauã Reymond e Alinne Moraes, além de uma desnecessária ponta do Jacaré (sim, aquele do É o Tchan), o longa-metragem tem como principal mérito a assombrosa atuação de Babu Santana que ilumina a tela em cada cena, carregando nas costas uma produção que por vezes não consegue nem camuflar a limitação de seus recursos financeiros – vide as televisivas sequências em que o músico faz shows para platéias supostamente grandes¹.
Com efeito, não obstante a considerável quantidade de ressalvas relacionadas, é obvio que o filme irá ser um sucesso de público e render o lucro esperado, êxito esse que, vale dizer, se deverá mais ao poder de atração e importância que o nome Tim Maia ainda hoje possui do que por virtudes desse que é um exemplo de cinema conformado, formulaico que não faz jus, portanto, a genialidade e porralouquice do síndico.
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1. Neste sentido, os poucos e mal dirigidos figurantes são filmados em planos fechados numa manjada estratégia adotada para sugerir um acumulo de pessoas maior do que o existente.