Alma de investigador
por Francisco RussoJá há alguns anos, o cinema brasileiro tem se especializado em um tipo específico de documentário, aquele de fundo afetivo, onde o diretor vasculha algum parente próximo (ou não) sem o menor afastamento. Alguns deles foram até bastante premiados, como Diário de uma Busca e Elena, outros nada mais são do que filme de família exibidos na tela grande. Não é o caso de Tim Lopes - Histórias de Arcanjo, mais recente exemplar deste subgênero a chegar ao circuito comercial.
O longa-metragem busca apresentar um panorama completo de Tim, tendo como enfoque principal seu brutal assassinato, traumático até hoje para os profissionais de jornalismo. Para tanto utiliza com habilidade um trunfo: Bruno Quintella, roteirista do documentário e filho do retratado. Presente em cena em diversos momentos, Bruno dá ao filme uma carga dramática extra pelo simples fato de ser um filho em busca de informações sobre o pai. Com isso, consegue obter depoimentos esclarecedores, não apenas sobre a morte de Tim mas também sobre as investigações decorrentes dela. Além disto, o documentário ganha peso ao trazer depoimentos fortes de colegas do jornalista, como Fábio Lau, que sacramenta: “quando o mestre cai, as pessoas ficam sem chão”.
Este, por sinal, é outro ponto positivo do filme: a noção transmitida de que o jornalista investigativo convive, com uma certa regularidade, com a barbárie. Para dar consistência à esta afirmação, Tim Lopes – Histórias de Arcanjo faz uma apresentação bastante abrangente de como era o método de trabalho de seu homenageado, seja através de relatos de antigos companheiros de profissão, de imagens de arquivo ou até das próprias matérias feitas por Tim para jornais e televisão. Trata-se de uma ambientação realista de como é a vida de quem trabalha nesta área do jornalismo, desmistificando a aura de “detetive de cinema” e até mesmo servindo como pesquisa para estudantes da área.
Se por um lado o documentário é bastante competente na área profissional, ele acaba derrapando justamente quando foca o lado pessoal. Isto acontece especialmente na metade final, quando Bruno e sua equipe partem para a pequena Itaqui, no Rio Grande do Sul, em busca dos laços familiares de Tim e de quem ele foi quando criança. Por mais que seja interessante conhecer este outro lado, ele fica bem aquém do material exibido anteriormente, trazendo ao filme um nítido desnível de qualidade. Ainda assim, trata-se de um bom filme que mescla didatismo, informação e afeto em doses quase sempre equilibradas, buscando apresentar quem foi este que é um símbolo do jornalismo investigativo no Brasil.