Entre mulheres
por Francisco RussoDesde seu primeiro trabalho no cinema, o pouquíssimo visto Subterrâneos, o diretor José Eduardo Belmonte tem trilhado uma carreira bastante autoral, apostando em filmes de fundo existencialista e por vezes incendiários, como A Concepção. Entretanto, já há alguns anos Belmonte tem buscado um cinema mais acessível ao público médio, apesar de não se render (ainda) às fórmulas prontas que pipocam aqui e ali na produção nacional. Assim foram Billi Pig e Alemão, seu maior sucesso de público, beirando o milhão de espectadores. Com Entre Idas e Vindas, título pra lá de genérico, ele volta a dialogar com o grande público em um misto de road movie com comédia romântica. É, também, seu filme mais ordinário, no sentido de se render escancaradamente a um cinema mais palatável.
O problema, é bom ressaltar, não é propriamente fazer um cinema mais acessível, mas ter o que dizer dentro desta proposta. A bem da verdade, Entre Idas e Vindas é uma história replicada inúmeras vezes por Hollywood, nas mais variadas gerações de comediantes. Trata-se da clássica comédia romântica em que dois desconhecidos, ambos com questões amorosas mal resolvidas, se encontram aleatoriamente e, aos poucos, se apaixonam. Tudo em um cenário fora do usual na vida de ambos - daí entra o road movie - e com um punhado de personagens coadjuvantes que, no fim das contas, pouco acrescentam à história de fato.
Talvez o que mais incomode seja que, ao assistir Entre Idas e Vindas, percebe-se claramente que Belmonte tem capacidade para entregar algo melhor, ou ao menos com mais conteúdo. O filme até oferece esta oportunidade ao revelar as dores de cada um dos adultos, abrindo a possibilidade de dar à comédia romântica um fundo mais psicológico, mas isto logo é descartado. O mesmo vale em relação às dificuldades de se trabalhar com telemarketing, apenas mencionadas sem que haja qualquer desenvolvimento neste sentido. É como se tais características, formadoras de cada um daqueles personagens, pouco importassem de fato. Há no filme uma busca pelo estereótipo que o torna raso, impulsionado por um roteiro que convenientemente desaparece com personagens quando estes não são mais úteis para, repentinamente, resgatá-los mais à frente. É o caso de Benedito (João Assunção), que some durante boa parte da festa sem qualquer explicação prévia.
Diante de material tão genérico, o que consegue segurar Entre Idas e Vindas é o elenco. Se o pequeno João rouba a cena de início, com algumas tiradas espirituosas envolvendo respostas sabichonas, cabe às mulheres a dinâmica necessária para mover o longa-metragem. Por mais que Caroline Abras seja mal aproveitada, já que sua personagem não tem qualquer função na trama, ela demonstra estar bem à vontade ao lado de Ingrid Guimarães, Alice Braga e Rosanne Mulholland, todas bastante desenvoltas e carismáticas. Os momentos em que estão reunidas, seja em quarteto ou em duplas, são de longe o que há de melhor no filme. Inclusive, se este fosse um road movie feminino, sem a presença do par romântico em potencial interpretado por um burocrático Fábio Assunção, possivelmente seria um filme melhor. Não apenas pela quebra do clichê envolvendo o interesse amoroso, mas também por investigar mais a fundo questões femininas, que são também tratadas sob uma certa superficialidade.
Por mais que Entre Idas e Vindas possua um verniz estético mais apurado que a média das comédias brasileiras, especialmente em relação aos enquadramentos e ao uso de outro tipo de câmera nas muitas cenas de praia, trata-se de um filme cujo roteiro, escrito em parceria por Cláudia Jouvin com o próprio Belmonte, está bem aquém da qualidade do elenco. Variando entre os gatilhos básicos da comédia romântica e também do road movie, no sentido de explorar o visual de locais pitorescos, trata-se de um filme com poucos bons momentos. Um deles, sem dúvida, é a breve participação de Milhem Cortaz, ao mesmo tempo divertida e verossímil.