Clouds of Sils Maria (porque a tradução Acima das Nuvens é um pouco oca ao analisarmos o contexto do filme) é, como a crítica colocou muito bem, um filme de muitas camadas. Maria Enders, a famosa atriz interpretada por Juliette Binoche, encontra-se em meio a um caos emocional que envolve um aspecto de nossas vidas sobre o qual não temos controle: o tempo. Prestes a voltar aos palcos na peça que a fez famosa vinte anos antes, quando interpretou a jovem Sigrid, Maria luta para aceitar e entender as nuances de sua nova personagem: Helena, uma executiva da sua idade e que, por isso, reflete a realidade do envelhecimento, a qual, assim como Maria, muitas vezes temos medo de admitir. Com a ajuda de sua assistente (uma Kristen Stewart que ficou a poucos passos de apresentar uma interpretação seguramente aperfeiçoada), Maria viaja para as montanhas de Sils Maria a fim de ensaiar. É então que ficção e realidade se misturam e as camadas se apresentam, transformando um filme com tendências excessivamente homogêneas em um caleidoscópio de sentidos, em que o conflito pessoal da protagonista se torna problema e solução no desfecho.
Mas antes que o filme (ou peça) termine, é preciso notar que ainda existe uma camada para apresentar o trabalho do ator tão profundamente que conseguimos perceber claramente a força que um personagem tem sobre a vida de quem o interpreta; o quão impactante é o envolvimento e a necessidade de se desvencilhar da própria pele para moldar um personagem, mas não por completo, nunca por completo, porque sempre existe uma parte do ator que é essencialmente "roubada" por esse personagem. E é essa parte que Maria teme oferecer para a figura de Helena, que a assegura da tão temida passagem do tempo.
O longa transcorre lento e o excesso de planos com a paisagem dos alpes quase o desloca para um patamar contemplativo, o que não é bem o objetivo, mas gera uma bonita fotografia. Em certos momentos, é possível que se espere mais do filme, mas ele é o que é: um conflito interno, pessoal, e esse é seu foco em todas as sequências, até o fim.
Por último, mas não menos importante, não poderia deixar de mencionar Juliette Binoche, razão principal de eu ter dado 4 estrelinhas para o filme. Desculpe os que não concordam, mas Binoche parece melhorar a cada papel e é sempre um prazer enorme assistir a naturalidade com que atua, a facilidade com que consegue fazer o espectador entender os sentimentos de suas personagens.
É um bom filme, com um aspecto bastante intimista (visto que boa parte dele é de diálogos entre Binoche e Stewart) e, por isso, sem ser tendenciosa mas expondo um simples fato, sua força reside na imensa capacidade de sua protagonista.