Retrato burocrático
por Lucas SalgadoResponsável por obras memoráveis, Graciliano Ramos (1892-1953) é um dos grandes nomes da história da literatura brasileira. São Bernardo, Vidas Secas e Memórias do Cárcere são clássicos do nosso cinema que nasceram de suas páginas. Ele teve uma grande importância política e cultural, sendo um personagem perfeito para um documentário.
O Universo Graciliano se propõe a ser este documentário. Mas se por um lado é ótimo ver uma figura como o escritor tendo sua história contada nas telonas, por outro é inegável que este não é um filme que faça justiça à sua carreira e obra.
Dirigido por Sylvio Back, o longa é bem superior ao trabalho anterior do cineasta (O Contestado - Restos Mortais), mas falha no desenvolvimento de uma narrativa cinematográfica. Estamos diante de uma obra didática, que parece mais um especial da Globo News ou um episódio do Globo Repórter do que um filme.
O cineasta até se permite a inventividade de inserir trechos de produções dos anos 30 e 50, como Casamento é Negócio? e A Seca, mas tudo é feito sem uma grande coerência. O que parece é que as sequências foram escolhidas apenas para preencher o tempo e fazer o filme deixar de ser um média para se tornar um longa (com 84 minutos de duração).
Oscar Niemeyer, Lêdo Ivo, Luiza Amado e Paulo Mercadante estão dentre os entrevistados da produção. Temos depoimentos interessantes, como os relatos declamados do historiador Ivan Barros, mas tudo é feito de forma simples, quase amadora. A fotografia investe em closes, o que não é necessariamente um problema, mas que acaba sendo na medida que a câmera nem sempre está estável. Temos inúmeras tomadas tremidas. E em alguns momentos percebemos até que o entrevistador se desloca, fazendo com que o entrevistado desvie seu foco de atenção.
Revela pouca coisa sobre a obra de Graciliano, mas pelo menos consegue fazer um panorâma do homem, do escritor, do político. Tem coisas interessantes, mas não é o doc definitivo que o autor merece. O que vemos é uma obra burocrática. E isso é algo que Graciliano nunca foi.