Baseado nas memórias do diretor e roteirista Halder Gomes, “Cine Holliúdy” tem uma história que, de uma certa maneira, ainda se mantém atual: a extinção das salas de cinema no interior do Brasil, mais particularmente no interior do Estado do Ceará, na década de 70, quando a chegada da televisão (com um certo atraso, diga-se de passagem, uma vez que a TV foi inaugurada em nosso país na década de 50) e a consequente concorrência entre dois meios de comunicação de massa ameaçou extinguir as salas de cinema do interior cearense.
O roteiro de “Cine Holiúdy” (que foi originado de um curta-metragem de mesmo nome, que Halder Gomes co-escreveu e dirigiu em 2004) está centrado na figura de um verdadeiro visionário: Francisgleydson (Edmilson Filho), que, além de ter uma imaginação para lá de fértil (como comprova a sua qualidade de exímio contador de histórias), é um verdadeiro apaixonado por cinema, cujo maior sonho é ter a sua própria sala de cinema. Ele está perto de realizar esse desejo quando, com o apoio da esposa (Miriam Freeland) e do filho (Joel Gomes), larga tudo e investe todas as suas economias para instalar o Cine Holliúdy numa cidade do interior do Ceará.
“Cine Holliúdy” tem um formato um tanto diferente, que faz com que a gente tenha a impressão de que o filme é uma série de esquetes sobre o tema principal do longa: o cinema e a forma como esta linguagem artística acaba influenciando as vidas daqueles que entram em contato com – e se apaixonam pela – sétima arte. Por meio do Cine Holiúdy, dos filmes que ele acabará exibindo e de toda a paixão que ele possui pelo ofício de contar histórias, Francisgleydson acaba tendo um papel fundamental para que outras pessoas, como seu próprio filho, por exemplo, acabem tomando gosto por essa atividade e passem a ter os seus próprios sonhos relacionados a essa área.
Sem dúvida, é uma bonita mensagem a ser passada, o que faz com que muita gente enxergue paralelos entre “Cine Holiúdy” e uma obra como “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tornatore, que também tinha uma história situada dentro da maneira como a sétima arte encanta e marca a vida das pessoas. Entretanto, essa é a única semelhança existente entre os dois longas. “Cine Holiúdy” é um filme que tenta passar o amor pela sétima arte de uma forma engraçada, descontraída e simples, totalmente fiel à realidade local na qual se passa (com todas as figuras de linguagem e gírias típicas do cearense – o que fez com que Halder Gomes adotasse legendas por toda a sua obra –, além da crônica sobre a realidade política coronelista que faz parte do interior do nordeste). Ou seja, é um filme muito “informal” para um tema que merecia um olhar mais analítico (especialmente sobre a sua questão principal). Porém, essa, claramente, não é a proposta desse filme.