Constrangedor
por Francisco RussoNão se assiste a um filme estrelado por Adam Sandler impunemente. Afinal de contas, o humor grosseiro e apelativo, por vezes tendendo ao escatológico, faz parte do seu repertório usual. Apesar desta predileção, Sandler possui alguns bons trabalhos no currículo: Embriagado de Amor (não por acaso, dirigido por Paul Thomas Anderson), Afinado no Amor e Como Se Fosse a Primeira Vez (ambos coestrelados por Drew Barrymore) são alguns deles. Diante deste retrospecto, havia uma certa expectativa em torno deste novo reencontro entre Sandler e Barrymore – será que a fofura da atriz seria suficiente para amansar as grosserias habituais dele? A resposta, desta vez, é não.
O que mais impressiona em Juntos e Misturados não é propriamente o personagem de Adam Sandler. Ele é o mesmo de boa parte de seus filmes: o sujeito bem intencionado e idiota, que não tem o menor tato ao lidar com qualquer pessoa à sua volta, o que “justifica” boa parte de suas piadas apelativas. O que espanta é Drew Barrymore ter embarcado neste tipo de humor, algo pouco comum em sua carreira. Talvez por isso diversos diálogos soem tão artificiais, como se a atriz não estivesse nem um pouco à vontade no papel. Isto acontece especialmente na metade inicial do filme, sendo amenizado à medida que a comédia romântica ganha força. Mas, até isto acontecer, a vaca já foi pro brejo há muito tempo...
A história começa com uma espécie de manual sobre como fazer com que um primeiro encontro dê errado: o local marcado é um Hooters, rede de restaurantes famosa pelas garçonetes de roupas justas e seios avantajados, a TV chama mais a atenção do que a companhia, ele bebe a caneca de cerveja dela, um camarão apimentado resulta em piadas escatológicas e coisas do tipo. Pano rápido para a apresentação dos filhos do casal, já devidamente separado. Cada um deles possui um estereótipo nítido, daqueles que se pode perceber de antemão como serão exploradas as piadas e o decorrente desfecho ao longo do filme. Como ela tem dois meninos e ele tem três garotas, há ainda o acréscimo da dificuldade dos pais em lidar com o sexo oposto em desenvolvimento. Tudo bem exagerado, é claro, como prega a cartilha de humor sandleriano. Piadas do tipo “qual o tamanho do absorvente que devo comprar para a minha filha?”, para deixar mais claro.
Em meio a diversos “facilitadores de roteiro” – situações insólitas criadas para simplificar a trama, de forma a poupar preciosos minutos da duração que explicações mais elaboradas exigiriam -, uma viagem à África cai no colo da trupe e, olha só, o destino reúne mais uma vez Jim e Lauren, agora acompanhados dos rebentos. Só que o continente africano retratado é aquele que o americano médio reconhece, repleto de clichês envolvendo animais selvagens, tribos subdesenvolvidas e costumes exóticos – tudo sob uma aura de proteção, para que se possa “conhecer” sem correr qualquer risco. Detalhe importante: em momento algum do filme é revelado o país visitado. Ou seja, do Egito à África do Sul tudo é absolutamente igual, não importa a diversidade de culturas e povos lá existentes.
Entretanto, há um ponto do filme que merece atenção: Terry Crews, que capricha nas bizarrices ao interpretar o cantor Tattoo. Por mais que suas participações sejam sempre surtadas, a ideia do personagem e seus inseparáveis dançarinos surgirem em momentos inesperados da trama, em uma função parecida à do coral grego em Poderosa Afrodite, é interessante, por mais que seja assumidamente ridículo.
Repleto de piadas sem graça, Juntos e Misturados é constrangedor. Seja pelas grosserias que surgem aqui e ali – há casal de rinocerontes transando! -, pelos trocadilhos infames – “this T-shirt is on fire”, walking dead, a garota que se chama ESPN – ou pelos diálogos inacreditáveis, como “precisamos aprender a amar e respeitar nossos mamilos, temos apenas dois pro resto da vida” (!!!). Trata-se de uma comédia que glorifica a mediocridade como estilo de vida a ser seguido, como tão bem revela o tom acusatório de Jim quando diz que Lauren não merece o Hooters. Péssimo!