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    Estrelas Além do Tempo
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Estrelas Além do Tempo

    Uma história de afirmação

    por Francisco Russo

    Certos filmes ganham relevância maior graças à época em que são lançados. Platoon, por exemplo, teve o (merecido) destaque graças não apenas à sua qualidade, mas também por ser o primeiro filme a abordar, de forma mais aprofundada, a participação norte-americana na Guerra do Vietnã. Kramer vs. Kramer reproduziu nas telonas as mudanças na sociedade dos anos 1970, quando a separação de casais passou a se tornar algo rotineiro. Ambos provocaram impacto, cada um em sua época, e coube ao tempo situá-los com maior ou menor importância dentro da história do cinema. Algo que, provavelmente, também acontecerá com Estrelas Além do Tempo.

    Situado nos anos 1960, o longa-metragem traz a história de três matemáticas, negras, que enfrentaram o preconceito racial dentro da NASA. Por mais que a segregação racial esteja escancarada em vários sentidos, tal história representa também o quão obtusa pode ser a humanidade frente a preconceitos enraizados por décadas (séculos?). Afinal de contas, como uma instituição de ponta como a NASA, onde a Ciência é estudada e valorizada, pôde se render a tal comportamento por tanto tempo?

    Isto, Estrelas Além do Tempo não responde. Assim como também evita tocar na ferida racial de forma mais aprofundada, se atendo a retratar preconceitos e absurdos sob uma certa cordialidade, no sentido de que tais situações devem ser enfrentadas com finesse - abaixar a cabeça nunca, mas também sem ir à luta pelos seus direitos. É como se, sem querer confrontar o status quo, o aceitasse tacitamente, por mais que reclame pelos cantos a todo instante. E este, no fim das contas, é seu grande problema.

    É claro que a saga de Katherine Johnson, Dorothy Vaughn e Mary Jackson deve ser louvada, pela coragem que tiveram ao quebrar paradigmas em um ambiente claramente preconceituoso, mas isto não significa que o simples retrato de suas histórias automaticamente gere um grande filme. Extremamente ameno e buscando um tom de feel good movie, o diretor (e roteirista) Theodore Melfi apela sem pensar duas vezes a estereótipos básicos envolvendo personagens coadjuvantes, como os interpretados por Kirsten Dunst e Jim Parsons. Antipáticos por natureza, cabe a eles personificar a figura do branco raivoso que descarrega todo seu rancor sempre que possível - e que, é claro, passa por uma transformação no decorrer da história. Nada mais previsível.

    Da mesma forma funciona a trilha sonora, composta pelo trio formado por Hans Zimmer, Pharrell Williams e Benjamin Wallfisch, que busca sempre valorizar o tom edificante que há por trás da história central. Não é à toa que a canção "Runnin'", composta para retratar as dificuldades de Katherine ao ter que ir a um banheiro no outro lado do campus, tenha também um tom alegre e divertido - é esta a intenção maior do filme, de servir como inspiração a toda uma geração. De certa forma, até funciona - ao menos para aqueles que evitam questionamentos mais aprofundados sobre a complexa questão racial da época -, investindo também em um certo tom patriota, decorrente da corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética.

    Diante desta postura ideológica em relação à narrativa, é importante ressaltar o trabalho das atrizes. Se Taraji P. Henson segura bem o posto de protagonista, a cantora Janelle Monáe consegue um certo destaque em um de seus raros trabalhos como atriz. Já Octavia Spencer pouco faz em cena, basicamente reprisando o mesmo perfil de várias outras atuações que teve. Sua indicação ao Oscar é muito mais pelo nome que possui, impulsionado pela estatueta ganha por Histórias Cruzadas.

    Correto e tecnicamente bem feito, Estrelas Além do Tempo cumpre sua função de revelar a história destas figuras escondidas do título original, mas está longe de ser merecedor do posto de indicado ao Oscar de melhor filme. Tamanho destaque pode ser creditado à atual conjuntura da indústria cinematográfica norte-americana, acusada de preconceituosa devido à ausência de diversidade nos mais variados níveis. Em tempos de #OscarSoWhite, este é o filme ideal para mostrar o contrário - também porque, ao contrário dos trabalhos de Spike Lee ou do impactante O Nascimento de uma Nação, não traz no DNA um tom raivoso que possa cutucar (ou ao menos realçar) a ainda aberta ferida racial existente nos Estados Unidos.

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