O misantropo
por Bruno CarmeloEsta comédia dramática faz uma aposta curiosa: por um lado, ela decide retratar os mesmos tipos desajustados da maioria dos filmes independentes norte-americanos, por outro lado, não mostra personagens adoráveis e prontos para se redimir, e sim um jovem arrogante e egocêntrico. A narrativa é capaz de fazer o público se identificar com Philip e torcer por um personagem tão detestável?
Confiante, o diretor Alex Ross Perry adota um estilo particular de narrativa e de imagem. Enquanto Philip (Jason Schwartzman) se gaba de suas peripécias literárias e amorosas, um narrador literário e afetado (Eric Borgosian) descreve emoções e conflitos internos. A câmera treme, a imagem é granulada e a direção de arte mergulha na nostalgia dos anos 1970 e 80, como nos antigos filmes de Woody Allen.
Em partes, esta é uma produção competente, com aspectos técnicos confiáveis e um elenco bem escolhido. Schwartzman é o ator ideal para os diálogos rápidos e cínicos, como já comprovou em diversos filmes de Wes Anderson. Aqui, ele destila fel em cada cena, desprezando todas as pessoas em seu caminho, pensando apenas em seu sucesso e seu prazer. Jonathan Pryce, no papel de um mentor igualmente misantropo, demonstra um sarcasmo convincente. A galeria feminina conta com nomes respeitáveis do cinema independente, como Elisabeth Moss, Krysten Ritter, Dree Hemingway e Jess Weixler.
O problema encontra-se no confuso desenvolvimento do roteiro. Cala a Boca, Philip (título nacional mais agressivo que o original Listen Up Philip) não consegue decidir seu ponto de vista. A história começa seguindo o olhar do protagonista, mas depois o abandona durante vinte minutos para falar apenas da sua ex-namorada Ashley (Moss), voltando em seguida às montagens paralelas. Chegando ao terço final da narrativa, a história introduz abruptamente mais uma personagem que dilui a trajetória de Philip. A importância dada a Yvette (Joséphine de la Baume) comprova o desequilíbrio de uma história indecisa entre a identificação subjetiva com o protagonista e a análise externa de todos os envolvidos.
Além disso, Philip revela-se um personagem difícil de aturar. O escritor não manifesta autocrítica ou autoparódia (como nos bem-sucedidos filmes de Woody Allen), reproduzindo apenas o amor próprio e o asco pelo outro. Ele transita entre várias mulheres e vários empregos, mas não apresenta conflitos ou evoluções substanciais. O roteiro demonstra um apego muito particular a este humor tão amargo quanto condescendente com as atitudes de Philip. Incapaz de se dissociar do egocentrismo do escritor, Cala a Boca, Philip termina parecendo, ele também, apaixonado demais por seu próprio talento.