Janela da alma
por Lucas SalgadoO austríaco Michael Haneke é um dos grandes nomes do cinema cult europeu. Recebeu duas Palmas de Ouro, dentre vários outros prêmios em Cannes, e um Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. É conhecido pela vontade de torturar o público e também por não dar muitas entrevistas e se recusar a explicar suas intenções com seus filmes, deixando a interpretação para o espectador.
Diante disso, um documentário que tem acesso amplo ao diretor e à atores que trabalharam com ele já vale ser conferido, ainda que adote uma narrativa formulaica. O filme estuda quase todos os longas do diretor, começando por Amor até chegar no início de sua carreira.
Fãs de Haneke e apaixonados por cinema tem tudo para aprovar o documentário, que também serve quase como uma aula sobre o diretor. Não se aprofunda muito e mostra uma face dele que muitos já conhecem, mas ainda assim oferece imagens impagáveis dos bastidores, em que testemunhamos seu jeito único de dirigir. Ele está em contato constante com seus atores e muitas vezes está bem humorado. No entanto, não faz compromissos diante de sua visão do que o filme deve atingir.
Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert, Juliette Binoche e Béatrice Dalle são alguns dos nomes ouvidos pela produção, que ainda registrou imagens de Haneke dando aula na universidade de Viena, onde ele revela que faz com os alunos algo que também faz com seus atores e com o público, ou seja, pressioná-los para fazê-los crescer.
Michael Haneke - Profissão: Diretor começa mostrando uma cena marcante da cinematografia do diretor, como se procurasse fazer o público se incomodar da mesma forma que Haneke, mas logo adota uma narrativa mais convencional, mais didática. Neste sentido, acaba sendo uma boa aula sobre o autor.
É curioso ver atores falando sobre o lado terrorista do cineasta, mas também admitindo estarem diante de um gênio. Mostra o papel duplo da música na filmografia de Haneke e coloca o público como vítima do diretor. Ao final, peca um pouco ao tentar reduzir o cineasta ao seu medo de sofrer, mas ainda assim oferece momentos impagáveis, como no momento em que o diretor retrata um convite para filmar em Hollywood um filme de ação sobre um pai e um filho enfrentando ursos e leões na floresta.
O documentário não chega em momento algum no nível de brilhantismo de seu objeto, responsável por produções inesquecíveis como A Fita Branca, Caché, A Professora de Piano e Jogos Perigosos, mas é uma boa janela para esta mente tão especial.