Adoro quando sou positivamente surpreendido ao assistir um filme no qual tinha uma certa “desconfiança”. Assim como “Um Amor Para Recordar” (2002, de Adam Shankman) fez uma década atrás, foi o que “A Culpa é Das Estrelas” fez comigo desta vez. Baseado no aclamado romance best-seller escrito por John Green e de mesmo nome, o filme conta a história de Hazel (Shailene Woodley, de “Divergente”), uma adolescente que sofre de câncer desde os 13 anos de idade e Augustus (Ansel Elgort, irmão de Shailene em “Divergente”), um jovem sobrevivente de um câncer que desde a sua cura passou a viver como um espírito livre, sem se privar de fazer o que tem vontade, admirando o bom e o belo que a vida tem a oferecer. Graças à insistência de sua protetora mãe, a Sra. Lancaster (Laura Dern), Hazel passa a frequentar um grupo de apoio, a fim de conhecer novas pessoas e tentar passar pela doença sem cair em depressão. Mesmo relutante, a garota decide ir às reuniões, e o destino aproxima os dois, desafiando-os a se apaixonarem em meio a delicada situação em que se encontram.
Ok, até aqui nada de novo, mas é no desenrolar da trama que percebemos que este não é um romance adolescente comum. A fórmula pode não ser original, mas é exibida de forma arrojada e diferente. Fugindo da tentação de colocar a questão da sobrevivência e “a espera de um milagre” no primeiro plano, e sim dar foco no sofrimento dos personagens de forma sóbria e natural, algo raro de se ver em filmes comerciais atualmente, especialmente quando o público-alvo é o adolescente. Os responsáveis pelo sucesso desta abordagem são os roteiristas Scott Neustadter e Michael H. Weber que, assim como no seu trabalho mais conhecido - (500) Dias Com Ela, de 2009 -, exploram o dilema interno e as incertezas de mergulhar em uma paixão, tendo em mente a responsabilidade que isso acarreta. Outro acerto, e este pode ser atribuído também ao jovem diretor Josh Boone (Ligados Pelo Amor, 2012), foi o fato de manter o foco nos dois protagonistas de forma objetiva e sem distrações desnecessárias, para que a história não ficasse “arrastada” ao longo das duas horas de filme.
As atuações da dupla de protagonistas são dignas de nota. Ambos os personagens são jovens em idade, entretanto maduros e conscientes de sua situação. Shailene e Ansel, que como mencionado anteriormente já atuaram juntos e aqui, como par romântico, demonstram uma excelente química. Shailene, atriz ainda incógnita, mas mostra que tem grande potencial ao conseguir emocionar com sua capacidade dramática, enquanto Ansel usa e abusa do seu charme peculiar para criar um personagem no mínimo simpático e encantador. Laura Dern e Willem Dafoe, com papéis secundários, também convencem e contribuem para o sucesso do projeto. A fotografia de Ben Richardson (Indomável Sonhadora, de 2012) é discreta e natural, agradável aos olhos e assim como a trilha sonora do filme, não é apelativa a ponto de ofuscar o brilhantismo do bom elenco.
O saldo final de “A Culpa é Das Estrelas” é muito bom, principalmente se comparado às últimas adaptações literárias adolescentes. Tem um ponto vista mais sincero da doença, como vimos na tragicomédia 50% (2011, de Jonathan Levine). Merece créditos por contar um melodrama sem eufemismos exagerados e mesmo parecendo uma contradição, é emotivo sem apelar para o sentimental. O resultado foi positivo, tanto que eleva o gênero de apenas romance jovem para um drama que pode ser apreciado por todas as idades. Mas cuidado, durante esta equivalência entre o amor e a morte, é possível que caiam algumas lágrimas até o final do filme. É como sentir o sabor amargo do amor e ser forçado a deixar quem ama, citando a canção "Cancer", da banda "My Chemical Romance".