CORAÇÕES DE FERRO (Fury
David Ayer ainda tem uma curta carreira como diretor (assim podemos dizer). Seus trabalhos mais recentes foram "Bright" (que eu ainda não assisti) e o terrível "Esquadrão Suicida", o que de certa forma não é considerado como um grande acerto como foi em 2008 com "Os Reis da Rua". Como roteirista David Ayer já vem desde o começo dos anos 2000, e já entregou roteiros memoráveis como "Velozes e Furiosos" e o sensacional "Dia de Treinamento", e péssimos como "S.W.A.T. - Comando Especial".
Muitos consideram Corações de Ferro como o melhor trabalho entregue por David Ayer até hoje, o que concordo plenamente. Como diretor David Ayer conseguiu entregar um trabalho consistente e muito bem organizado, o que de certa forma contou muito pra interação em sua história. Com um trabalho de câmeras muito competente que nos puxava para dentro daquele cenário catastrófico, nos fazendo aproximar cada vez mais da guerra e trazendo a reação estampada na cara de cada um dos soldados envolvidos. Como roteirista David Ayer ainda vai mais longe e consegue nos entregar um dos seus melhores roteiros ate hoje (se não for o melhor). Corações de Ferro nos traz um roteiro já bem gasto, que é o nazismo e a segunda guerra mundial, mas de uma forma mais complexa, mais humana e que mexe com o psicológico do quinteto abordo do "Fury". David Ayer soube dosar muito bem entre a guerra e os confrontos, com a construção e a desconstrução de cada personagem, nos mostrando a evolução e a degradação ali lado a lado.
Não vou negar que os temas "segunda guerra mundial" e "nazismo" são os meus preferidos em filmes, e Corações de Ferro me surpreendeu ao entregar uma narrativa tensa, com um tema pesado e um ambiente sombrio. O longa segue um enredo em até certo ponto diferente, ao vivenciarmos o dia a dia a bordo do tanque, com soldados já calejados pela guerra e um recém-chegado totalmente inexperiente e assustado com tudo em sua volta. David Ayer segue com um roteiro totalmente acertado, ao nos mostrar os confrontos de tanques (o que me lembrou muito uma fase da campanha do jogo Battlefield 1), conseguindo expor a crueldade e a carnificina da guerra, com uma forma totalmente assustadora. Ao mesmo tempo que também nos mostra os confrontos de ideias, a formação de caráter, o crescimento como soldado, o desenvolvimento para um homem que precisa lutar pelo seu país. Essa é a verdadeira cereja do bolo do roteiro de David Ayer!
Um grande roteiro precisa de grandes atuações e nesse quesito estamos bem servidos!
Logan Lerman é o verdadeiro protagonista de toda história, o que de certa forma me surpreendeu, principalmente ao final. Logan é sim um bom ator, eu sempre o vejo com bastante entrega aos seus personagens, sempre com bastante potencial. E em Corações de Ferro temos uma ótima constatação, ele entrega um ótimo trabalho.
Brad Pitt tem uma veia muito boa para filmes nesse estilo, ele funciona com uma naturalidade impecável. Pitt tem mais uma grande atuação em sua carreira, todos os seus trejeitos, aquele sotaque carregado, aquele comandante linha dura já calejado e maltratado na pele pela guerra. É completamente sensacional, o que me remete bastante ao tenente Aldo Raine de "Bastardos Inglórios", só que de uma forma bem mais sádica!
(PS: sua última cena dentro do tanque me deixou boquiaberto
Shia LaBeouf, Michael Peña e Jon Bernthal completam o quinteto do "Fury".
Shia era um personagem mais astuto e sagaz, que sempre queria se adiantar aos problemas. Michael era o pensador, que usava a sua inteligência e perspicácia a favor do time, muitas das vezes até se doando por todos. Já Jon era o mais porra-louca, o mais inconsequente, que não estava nem ai pra nada, só queria resolver tudo à sua maneira.
Cada um atuou com a sua peculiaridade e a sua naturalidade, o que trouxe um ganho muito grande para o filme, sendo um resultado final impagável!
Corações de Ferro não é somente mais um filme de guerra, é um drama indigestível, intragável, assustador, que confronta a sagacidade do ser humano. Com diálogos intensos, uma fotografia borada e acinzentada que transcendia o horror dos campos de batalhas, e uma trilha sonora forte e incômoda do compositor Steven Price (o mesmo de Gravidade), que permeou todos os acontecimentos que nos envolveu nesse ótimo trabalho entregue por David Ayer. [28/04/2019]