Uma cidade como protagonista
por Lucas SalgadoIrandhir Santos é o principal nome do cinema brasileiro no momento. Nos últimos anos, teve participações marcantes em Tropa de Elite 2, Febre do Rato, O Som ao Redor, Tatuagem, A História da Eternidade e muitos outros. Em Obra, ele divide a cena com outro ótimo ator, Júlio Andrade (Serra Pelada, Entre Nós e A Estrada 47). Mas a verdade é que nenhum deles é o verdadeiro protagonista da produção dirigida por Gregório Graziosi. Aqui, o protagonista é um só: a cidade de São Paulo.
Premiado no último Festival do Rio, o diretor de fotografia André Beltrão realiza um trabalho fabuloso. A utilização do preto e branco é parte fundamental da opção cinematográfica, mas está longe de ser o principal mérito da fotografia. Mesclando tomadas abertas da cidade com momentos quase sempre solitários de Irandhir, o filme oferece uma visão bem peculiar da maior cidade brasileira. O longa deixa de lado o trânsito intenso e a rotina pesada do trabalhador paulistano, para focar na sensação de angústia e pânico presente no dia a dia de uma grande metrópole.
A fotografia também dialoga perfeitamente com o roteiro do longa. O personagem de Irandhir é um arquiteto. Desta forma é natural que o filme passe boa parte de seu tempo se dedicando a arquitetura de São Paulo. Neste sentido, os cenários escolhidos também demonstram uma preocupação arquitetônica, como a casa dos pais do protagonista.
Às vésperas do nascimento do primeiro filho, João Carlos (Irandhir Santos) recebe a notícia de que uma ossada foi encontrada na obra que está para iniciar. Sem querer interromper o projeto, ele tenta esconder o fato, mas acaba entrando em conflito com o mestre de obras vivido por Andrade. Preocupado com o filho e com a obra, João vê sua vida sofrer um forte abalo, que o fará repensar sua relação com a família, com o trabalho e com a mãe de seu filho.
Lola Peploe, Fernando Coimbra, Helena Albergaria, Marisol Ribeiro, Luciana Domschke e Marku Ribas completam o elenco da produção. Dos citados, Peploe é que mais se destaca além dos protagonistas. Ela vive a companheira de João, que demonstra força, mas ao mesmo tempo despreparo para lidar com os problemas físicos e mentais do parceiro.
Trata-se de um filme esteticamente ousado e envolvente. A trama do personagem principal é simples, mas os atrativos visuais são muitos. Um longa que debate questões importantes como ética, moral, família e trabalho.