Riot Club é uma fraternidade elitista, formada por jovens britânicos privilegiados, dentro da Universidade de Oxford. O enredo se inicia com um insólito prelúdio, que já dá o tom da razão de ser do clube. A breve cena introdutória passa-se no final do século XVIII, em que um marido traído assassina o jovem e libertino nobre Mr Riot. Daí o nome do clube, criado como homenagem póstuma a um mártir do hedonismo inconsequente.
O clube, composto tradicionalmente por dez membros, encontrava-se desfalcado de dois integrantes. Os oito membros, então, lançam mão de um “processo seletivo”, no qual são recrutados os calouros Alistair (Sam Claflin), escolhido por ser irmão de um admirado ex-integrante, e Miles (Max Irons), claramente por despertar a atração sexual de Hugo (Sam Reid), importante membro do grupo.
Alistair revela-se, desde o início, repugnante e esnobe. O jovem pedante consegue se manter por cima mesmo ao ser assaltado, situação em que aproveita para dar uma “lição” nos bandidos. Alistair ensina-lhes que foram redundantes ao lhe exigir o “número PIN”, uma vez que a sigla significa “Número de Identificação Pessoal” e, dessa forma, o vocábulo “número” estaria sendo dito em duplicidade. Uma boa demonstração do caráter do personagem.
Personagens antagônicos, Alistair demonstra ser repulsivamente esnobe, ao passo que Miles aparenta até gostar da submissão a que é submetido e se sente orgulhoso por ter a honra de ser acolhido pelo seleto clube. Miles demonstra ser sensível e mais humano (comparando-o com os demais colegas, chega a parecer um santo).
A primeira e breve parte do filme tem como propósito expor o caráter de ambos, bem como esboçar o perfil do Riot Club, que, por vezes, flerta com a escatologia, o homoerotismo, a xenofobia e o fascismo. Além disso, apresenta um pouco do perfil dos atuais membros do clube, cujas deficiências de caráter são demonstradas de forma rasa e por meio de atuações pouco destacadas do elenco de apoio. Igualmente superficial é a relação de Miles com sua namorada Lauren (Holliday Grainger). A garota possui funções bem delineadas na história, ao mostrar o contraste entre o padrão socioeconômico dos membros do clube e o dela, com raízes na classe operária e que, portanto, precisa se esforçar (estudar) mais para conseguir algo na vida.
Quanto aos parcos diálogos entre os demais personagens, destaca-se a cena em que o prepotente grego Dimitri Mitropoulos (Ben Schnetzer), é considerado uma carta fora do baralho na disputa para assumir o cobiçado posto de presidente do clube. Ou seja, a xenofobia – traço marcante de clãs elitistas como o Riot Club – atinge o próprio grupo.
A noite de celebração, um banquete anual realizado em um restaurante de Oxford, tem como mote a embriaguez e a inconsequência. Trata-se de um ritual glutônico (com direito a um assado composto por 10 aves diferentes), em que se deve beber e comer até o limite. Até aí, nada de muito inusitado. Ocorre que alguns contratempos da noite – especialmente a frustração sexual causada pela negativa da prostituta (Natalie Dormer) de fazer o programa grupal – somados ao uso de drogas e, principalmente, à pré-disposição à violência, acabam por encher até a tampa um barril de pólvora, que estoura em um desfecho absolutamente desolador.
Merece destaque a convincente atuação de Tony Way, dono do devastado restaurante, que consegue provocar empatia e comiseração e, assim, despertar no expectador um inevitável sentimento de revolta. O que falar, então, do soco no estômago no desfecho, em que um antigo e influente membro do Riot Club (Tom Hollander) utiliza-se do famigerado “jeitinho” para aliviar a situação de Alistair e, ainda, declara que possui grandes planos para o jovem. O filme tem como maior mérito justamente isso: atinge em cheio o sistema límbico do expectador, causando-lhe sensações que vão da indignação até o nojo e a repulsa.
Por outro lado, destaque negativo para a apresentação simplista e generalizadora do papel das mulheres, representadas por uma emergente estudante oriunda da classe operária, por uma garçonete e por uma prostituta de luxo. É certo que o machismo, que dá o tom durante todo o filme, é mais comum em clubes e fraternidades do tipo, mas fica a reflexão: será que existem em Oxford (ou em outra universidade de igual renome e prestígio) clubes semelhantes compostos por mulheres elitistas opressoras?