O poder da imprensa
por Bruno Carmelo“Uma história baseada em fatos reais”. Esta é uma das primeiras frases do filme, acompanhada de uma rápida colagem de discursos presidenciais e recortes de jornais mostrando a posição dos diversos governantes dos Estados Unidos contra o “abuso de drogas”. Este início é eficaz, veloz e empolgante, por apresentar ao público o contexto (a conjunção entre política e tráfico de drogas) e insistir no caráter verídico da trama. Assim como Argo, O Mensageiro é uma dessas histórias políticas levada às telas não por causa de seu realismo, mas de seu caráter incrível, surrealista.
No caso, o jornalista Gary Webb (Jeremy Renner) de um pequeno jornal pouco expressivo descobre a conivência do governo americano com a entrada de crack nos Estados Unidos. Não se trata de um pequeno erro nas operações, mas de um grande acordo bilionário envolvendo traficantes de países da América Central. Cabe a este homem corajoso desvendar o esquema, contra uma forte pressão política – e para tornar este personagem verossímil, Renner faz o possível para construir um homem impulsivo e progressista, capaz de enfrentar a Casa Branca sem pensar nas consequências.
Grosso modo, a trama se divide em duas partes. A primeira delas retrata a ascensão nas buscas de Webb. Preocupado em tornar a investigação clara ao espectador, o roteiro não cria muitas dificuldades, e imprime um ritmo ágil nas descobertas: o jornalista passa de um suspeito ao outro, descobre uma nova revelação bombástica a cada entrevista. Todos os perigosos traficantes, políticos e policiais estão curiosamente à disposição deste homem, fornecendo informações confidenciais com grande facilidade. Embora esta seja a parte mais vibrante, reforçando o poder da imprensa na revelação da verdade e no combate à corrupção, ela é também a parte mais simplista do ponto de vista político e social.
Em seguida, inevitavelmente, vem a queda de Webb. Começam as pressões, as chantagens, as violências físicas e psicológicas contra o homem e a sua família. Esta segunda metade abandona o fervor do jornalismo investigativo para adotar o intimismo psicológico. A fotografia se torna mais sombria, o ritmo fica um pouco mais lento e o espectador é preparado para uma espécie de desfecho trágico. Entra em cena certo moralismo sobre o passado do personagem e suas condutas sexuais – tipo de concessão quase obrigatória em um projeto de grandes estúdios, que parecem tolerar o discurso antigovernista contanto que a moral familiar, patriarcal e cristã seja mantida intacta.
Mesmo assim, quando O Mensageiro ameaça enveredar pelos clichês rumo à conclusão, ele consegue surpreender com uma guinada amarga, menos espetacular e mais humanista. Cartelas informativas e fotos do verdadeiro Gary Webb vêm reforçar a imagem que a história é de fato “verdadeira”, mas nesta altura da projeção, pouco importa: o filme conseguiu passar a sua mensagem sobre a hipocrisia da Casa Branca na guerra às drogas. Para isso, sacrifica às vezes a verossimilhança, às vezes a complexidade política, mas consegue obter um suspense policial cativante, com mais conteúdo crítico do que a média das produções do gênero.